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quinta-feira, 29 de maio de 2008

Coimbra às vezes faz-me mal



Coimbra às vezes faz-me mal. Esta cidade velha inundada de pândegos pilgrims que procuram um melhor futuro consegue ser o Paraíso e o Inferno.
Nunca quis vir estudar para Coimbra, na minha inocência de quem pouco conhecia nunca simpatizei muito com Coimbra. Fui mudando de opinião e escolhi quatro opções para Coimbra na candidatura ao ensino superior. Talvez na minha infantil inocência tivesse mais razão do que na minha mais adulta consciência. Coimbra dá-nos o melhor… e o pior…
Cheguei cá como qualquer caloiro, atrapalhado, desorientado, sem saber ao que vinha. Fiquei maravilhado com a forma como era tão simples fazer amigos ao virar de cada esquina, como era fácil socializar, como todos eram os adultos que não há numa escola secundária. Passado um ano descobri, entre caloiros e doutores, mais crianças do que desejava, uns foram e são importantes na minha vida, outros ignoro-os na sua infantilidade. Consegui sempre ao longo deste tempo manter um círculo social de muitos e bons amigos, algo muito valioso que nunca antes na minha vida havia experimentado. O convívio, a entreajuda, a proximidade, os extremos, os abusos, os risos acerca dos abusos, a vida na palma da mão e a sorrir para ela, a sorrir do mais inteligente e a rir do mais estúpido, vida feliz de mágoas afogadas e malas aviadas para a próxima cambalhota. Aprendi a ser muito feliz e muito triste. Apanhei também muitas desilusões, dei muitos trambolhões, quedas, tenho muitas cicatrizes. Coimbra deu-me o melhor… e o pior…
A necessitar de férias de Coimbra alargo os meus horizontes. Há experiências fantásticas por viver. À procura também de novas valências para o meu currículo informo-me sobre o programa Erasmus. Sempre gostei de novas experiências, contacto com outras culturas, e adorei a última vez que pude experimentar algo do género mesmo cá em Portugal com quarenta mil outros jovens oriundos de toda a Europa. Apesar de adorar o meu sofá não é lá que pretendo passar a minha juventude. Quero poder ter algo mais que contar aos meus filhos do que a programação televisiva da altura em que fui jovem. Quero poder contar-lhes cenas caricatas e engraçadas que marcam a nossa vida em outros pontos do mundo, tal como me conta às vezes o meu pai (no pouco tempo que podemos passar juntos) situações engraçadas vividas em Moçambique aquando da sua passagem na guerra.
Tanto me lança e tanto me prende. São seis meses que planeio, sei que não me vou arrepender se o fizer, mas tenho tanta coisa a prender-me aqui, custar-me-ia separar do bom que tenho… Tenho pouco mais que duas ou três semanas para me decidir e ainda tenho algumas dúvidas. Todos me aconselham a ir, a viver um experiência única na vida, e estou na altura mais adequada para o fazer. Uma decisão há-de surgir.
Tenho pena desta cidade velha, envelhecida. Talvez gostasse de estudar noutro sítio, talvez preferisse esta pequena capital. Não sei. Sei por certo que não vivi aqui nem mais nem menos que aquilo que tinha para viver. E também sei porque às vezes me faz mal. Afinal Coimbra apenas me ensinou o que é e o que sempre será a vida, o melhor… e o pior…