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quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Desculpem...



A serio, a cama estava mesmo quentinha, nao dava...

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Quem é o sábio?


Naqueles dias dizia-me um estimado professor assim:
“-Quando uma pessoa lhe chamar burro ignore. Quando duas pessoas lhe chamarem burro comece a pensar nisso. Quando três pessoas lhe chamarem burro é melhor comprar umas orelhas.”
Disseram-me várias vezes, por lisonja e por ser aparentemente verdade, que tenho um dom. De há um tempo para cá tenho vivido obstinado a provar isso, tenho tentado convencer-me a mim próprio que é verdade, tenho acreditado nisso. Diz “O Segredo” que é bom acreditar, aliás, que a chave é acreditar. É um factor cientificamente óbvio que o acreditar e o esforço no sentido da concretização levam a um aumento da probabilidade de que o facto desejado realmente aconteça. Mas com um dom é diferente, um dom não acontece por simples força do desejo, um dom não vem por acréscimo com a vontade, um dom nasce e pode ser definido como característica natural intrínseca ao indivíduo. E ao olhar para o vizinho do lado, ao cuscar o trabalho de outrem, resigno-me à minha insignificância. Quis muito acreditar que tinha o dom, mas aquilo em que acredito é mísero ao pé da beleza de tão simples palavras, ali sim, mora o dom.
Uma vez que tomo consciência da realidade acanho-me e calo-me. Brinquei muito a tentar ser reconhecido por algo que não tinha e fiz figura de parvo com isso.
Já vi sábios, já conheci sábios mas poucos verdadeiros. Hoje, depois de muita brincadeira em redor da verdade, sou dono absoluto da verdade de que a suposta verdade é afinal mentira e o tal dom não existe, era apenas uma vontade.
Já fui apelidado, sarcasticamente, de “Dono da Verdade”, parece que quis ser mais do que aquilo que sabia. Dizem-me mais que muitas vezes que tenho a mania de que tenho sempre razão. É bem verdade. Muitas vezes tenho jeito para ombro amigo, ouço o que acontece e proclamo bonitas palavras. Tenho jeito com chavões e impressiono algumas pessoas com palavras caras e um pouco de imaginação, não com palavras verdadeiras. Dão-me razão as pessoas, não porque a tenha mas porque a convicção com que as digo levam-nas a parecer verdadeiras e banhadas de razão. Isto é uma característica intrínseca à minha pessoa mas não é de todo um dom.
Às vezes nasce um parvo. Fala como um papagaio, não pensa no que diz, mas pode no seu despropósito dizer palavras tão certas como a morte. Claro que quando não são bonitas, coordenadas nem complexas não são levadas em conta.

Por outro lado, a sabedoria de quem é sábio, de um qualquer escritor de verdade e reconhecido, é valiosa como uma ciência alquímica. E tal valor tem origem apenas nos flutuantes pensamentos a que o livre arbítrio da compreensão dos factos origina, não numa extraordinária inteligência ou numa árdua tentativa de formular complexas expressões de dúbios sentidos, de múltiplas possibilidades de compreensão que deixam o intelecto ocupado. Portanto não há ciência definida a que se possa chamar “Sabedoria” como sendo a origem de boas palavras de irrefutável razão, pelo que qualquer indivíduo com dois dedos de testa e sentidos apurados pode ser um sábio na compreensão da realidade e obtenção de respostas, quer seja o Romano, o Grande, o Guelas, o Zé ou o Mimosa.
A razão de haver poucos sábios está no facto de nem todo o comum mortal com estas comuns características se dar ao trabalho de dar um passo em frente e aventurar-se na jornada da procura de respostas, porque ela é longa e trabalhosa, e há muito quem prefira viver na ignorância. Enquanto se vê um grupo de comuns mortais na batalha por mais direitos, mais posse, mais dinheiro e propriedade, vê-se um homem solitário, à parte, absorto nos seus pensamentos, revolvendo a neve e perguntando-se porque é ela branca, porque é ela fria, porque é ela leve, procurando respostas para dar a quem vier a seguir. Esse homem distante no silêncio a quem chamam louco é um comum sábio por entre a comum gente comum.

Sábio que é sábio é aquele que sabe calar e não proclamar que é sábio, aquele que sabe viver na humildade de não ser mais do que aquilo que é (um peão no jogo), e saber ao mesmo tempo viver na condição de que o humano é um ser social e a palavra chave é “reciprocidade”.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Para o meu raio de sol das Caldas =p


Ai ai, dia custoso este, é difícil ser-se gente, ser-se grande, ser crescido, a responsabilidade mata-me. Um banho quente e relaxante espera-me. Coisa saborosa, é mais um bocadinho que tenho para mim e para os meus pensamentos.
Desta vez vem-me à memória a minha infância, foi normal como qualquer outra tão diferente mas é impossível não esboçar um sorriso ao recordar a minha vida em pequenito… Apesar de até nem ser muito desajuizado lembro-me que era algo enérgico como toda a gente daquela idade. É engraçado, naquela altura tinha amigos, muitos amigos, de todas as idades, pirralhos como eu, mais velhos amigos da minha irmã e até da idosa geração daquele tempo da qual metade já me vê a partir de lá de cima. Não me sentia incomodado nem era mal recebido por entrar em qualquer casa lá na aldeia, era bem conhecido e bem estimado. Aos sábados depois de almoço lá pedalava com o meu pai rumo ao café. Nunca entrava sem antes cumprimentar toda a gente na esplanada e ao entrar cumprimentava quem se encontrava lá dentro, era comum sentar-me já cansado dos vinte ou trinta apertos de mão a toda aquela gente, das cócegas, beliscões e roubos de boné brincalhões que recebia junto com os cumprimentos.
Era fácil fazer amigos, era fácil ter amigos, era fácil manter amigos. Raramente ouvia um “não” como resposta quando me escapava naturalmente a pergunta “ queres ser meu amigo?”. Era fácil ser-se criança e os amigos não exigiam muita dedicação para continuarem a ser amigos. Depois comecei a crescer. Mudei de escola, de ares, de regras a fazer amigos. Demorei algum tempo a ser capaz de perceber como funcionavam e a ser capaz de cumprir as novas condutas. As relações com o evoluir da idade tornam-se mais sérias, mais certas, mas como tudo acarretam também mais responsabilidade e empenho. É mais difícil fazer amigos, é mais difícil ter amigos, é mais difícil manter amigos. Eles existem, mas são diferentes. Há que ter muito cuidado para não confundir sentimentos. É difícil às vezes não desrespeitar um amigo (mesmo que sem querer) tal como o era em criança, à excepção de que agora as consequências são sérias.
Mas apesar de tudo ainda há dias em que o sol brilha para nós, ainda há dias alegres, ainda há dias em que o destino nos brinda com belas surpresas, e, diga-se de passagem, conheço poucas belas surpresas melhores que um novo amigo. Nem me lembro bem em que dia foi, lembro-me que vagueava pela escola com a Ana e a Anita e lá no bar nos cruzámos com uma menina:
“-Bruno, esta é a Andreia, Andreia este é o Bruno.”
“-Encantado!”
E razões para estar encantado tinha eu, sem imaginar tinha feito ali uma amiga, uma bela amiga que me fez lembrar aquelas amizades do tempo de criança, uma amizade espontânea e divertida. Rapariga de fácil conversa, sentido de humor, voz sexy =p e um sorriso radioso! Demorámos algum tempo a reatar o contacto depois daquela primeira conversa mas depois levei pouco tempo a gostar ainda mais da minha nova amiga. Pessoalmente só estivemos juntos uma meras duas vezes mas ela está sempre presente. Às vezes escorrego dos altos para os baixos da minha vida e lá pelo meio, mesmo até de noite o sol brilha, por mensagem de telemóvel ou internet o meu pequeno adorável raio de sol faz-se sentir e lá brilha com um “Olá! :-)”. Então lá subo outra vez para o alto como se tivesse naqueles infantis anos encontrado um companheiro de brincadeira. Mesmo ao longe, aqui a uns 2600km de distância ela consegue pôr-me a sorrir com um pequeno sorriso.
É o meu querido Raio de Sol! Pediu-me um poema. Não sou grande poeta. Deixo-lhe aqui aquilo que melhor sei dar, palavras sinceras de quem agradece.
Um beijinho muito especial!***

domingo, 27 de julho de 2008

Profetas da desgraça

É um sol que brilha hoje, era chuva ontem. “O tempo anda instável” e a expressão é mais séria do que se pensa. É um mundo este como não era o de antes. O destino é mesmo a mudança e consumição que leva ao fim de tudo. Este pequeno albergue que nos transporta não é excepção relativamente ao seu conteúdo.
As sombras que as nuvens desenham pelo meio das montanhas já não são mais simples fenómenos da natureza, são agora agoiros malignos da acção do homem na caixa de fósforos em que vive, enchem de sombra obscura e atemorizante pequenos espaços que se vêm privados da luz do astro que alimenta a vida biológica.
Pelo meio da chuva chego a casa ontem vindo de um calmo passeio perfumado de romantismo. Não é uma tempestade e cai suave e pachorrenta, até vem saborosa mas vem desajustada no meio deste verão escaldante. Bela noite esta na sua acalmia. Como que perdido na rua, encostado a um muro de jardim, indiferente à chuva que molha mais do que tolos, um velho com aspecto de mendigo fala sozinho enquanto enrola tabaco para alimentar o seu vício. Não é já mais um tolo. Fala sozinho mas não é solo na sua atitude, outros há por aí espalhados pelas ruas e tropeçamos todos os dias neles sem dar conta. Falam em murmúrios esquisitos nos seus gritos inaudíveis que não são fruto de total insanidade. Eles são profetas da desgraça que nos espera, da loucura espasmódica que nos toma a cada minuto, da evolução da desgraça que já vivemos e que não tarda muito em dar o seu sinal mor. São seres que não percebemos, não entendemos e a que não damos valor, mas a sua missão é cumprida e os tolos apressados e os lentos ociosos não se dão ao trabalho de os ouvir e de ouvir o seu sinal.
Vivemos já enterrados numa desgraça, uma desgraça que de graça não tem nada, é de borla mas não tem piada. Uma síndrome caótica dos tiros no pé que damos todos os dias inconscientemente na nossa desculpa da evolução e no desleixo do comodismo. Queria ter a coragem para ser um downshifter neste mundo apinhado de pressas inconscientes que não nos leva senão à perdição, mas não posso, estou demasiado preso, preso a tudo, a todos, preso a responsabilidades armadilhadas que não posso largar sem morrer socialmente. Pouco se pode e se consegue fazer. Ter um bocadinho de consciência não é mau e não nos impede de ser felizes, já a responsabilidade mata-nos mesmo. Não há realmente muito a fazer mas morram vocês lá com o dinheiro debaixo dos colchões que eu cá vou é aproveitar a vida, é que o fim chega já algures depois de amanhã. Medo? Não, não tenham medo, ser downshifter não é ser inconsciente, é tomar o sabor, o verdadeiro sabor. Tenham apenas um pouco de consciência e sejam capazes de perdoar que este estado terrestre logo se torna um mundo melhor para viver no meio de toda a desgraça.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Paixão? Amizade? Amor?

Tem um nome muito comum entre o meu círculo de amigos essa menina. Numa história bonita gostava de se chamar Sofia. Um nome tão simples como tudo o resto que ela é. Uma pessoa que encanta pela sua singela simplicidade. Tem cabelos esvoaçantes, dourados, da cor do brilho do sol na areia da praia. Os seus olhos embalam-nos num lindo olhar da cor daquele mar profundo. Todo o resto da sua beleza, interior e exterior, se baseia numa essência do mais fofo que há.
Recordo-me vagamente de como nos conhecemos. Ambos caloiros naquela altura, ela tinha chegado de pára-quedas na segunda fase de ingresso e ainda andava um pouco meio perdida. Ela não sabe bem porquê, eu também não, mas havia uma troca de sorrisos quando nos olhávamos. Ela chegava-se então a mim e brincava com o fecho do meu casaco, abrindo-o e fechando-o distraidamente enquanto conversávamos. O destino empurrava-nos e ali estávamos nós brincando um com o outro, conhecidos há pouco tempo e já amigos. No seu sorriso encantador pouco tempo demorou a fazer surgir em mim um fraquinho por ela. Rapidamente ficámos grandes amigos e surgia uma paixoneta por ela. Nunca quis arriscar algo e o seu coração por aqueles dias foi arrebatado por uma intensa paixão, um pouco traidora, que ainda hoje a faz sofrer muito. Um caso complicado. Eu ia muitas vezes a casa dela e ela desabafava comigo sobre o que estava a viver, mas depressa isso teve que parar quando lhe expliquei que gostava dela de uma forma especial e me custava ouvi-la falar disso. Ficou um pouco surpresa com a revelação mas nunca de modo nenhum me tratou de forma diferente por causa disso. Paixão.
Consegui lidar com o que sentia de uma forma pouco custosa. Ela sempre foi uma jóia para mim. É uma miúda carinhosa e compreensiva. Nunca me lembro de discutir com ela. Temos feitios muito semelhantes e ela possui raras qualidades que eu adoro numa mulher. Mas o muito que tínhamos e temos em comum nunca me dificultou a vida, sempre apenas nos aproximou ainda mais como amigos. Duvido que tenha uma amiga com quem me relacione tão bem, com quem me sinta tão bem e à vontade. Basta entre nós uma troca de sorrisos para fiquemos um pouco mais contentes. Eu escrevo e ela aprecia, também é uma boa avaliadora do meu trabalho. A porta da casa dela está sempre aberta para mim e o seu ombro está sempre pronto para amparar as minhas lágrimas. Somos ouvintes compulsivos e atentos um do outro e não temos o menor problema em expor um ao outro qualquer pormenor mais sórdido da nossa vida por entre sorrisos. Entre nós nada há a esconder. Confiança total. Amizade. Uma forte e grande amizade que espero perdurar para o resto da minha vida.
Paixão? Amizade? Amor?
Já foi paixão. Esta forte amizade é até já amor. Ela é uma pessoa tão especial como muito poucas. A cumplicidade reina entre nós de forma natural e por entre brincadeiras. Junto a esta mora também o respeito que sempre foi essencial a um bom entendimento. Entreajuda, compreensão… Não sei que mais enumerar, mas perdem-se-me na cabeça elogios a tecer-lhe. Penso muitas vezes num tipo de mulher que poderia fazer de mim um homem feliz um dia. Ela é a primeira pessoa que me vem à cabeça. Duvido que haja alguma característica menos positiva nela que me tire do sério, se as há são apenas pequenos contratempos insignificantes. É uma mulher simplesmente bonita. Adoro mais que tudo o seu sorriso terno que me adoça o coração de uma forma tão especial. Adoro o seu cabelo, os seus olhos, o seu corpo simples e bonito, a sua doçura, a sua ternura, a sua compreensão, as suas bochechas que dão vontade de morder. Gosta de desporto, de ver e de jogar futebol, é uma mulher bem-disposta e é adorável quando faz beicinho. Foi ela que me ensinou a beber uns copos cá em Coimbra até! Arrisco a dizer que, aparte da minha mãe, ela é a mulher da minha vida. Sinto agora por ela, ao fim destes anos, um terno e forte amor. Amo-a mais que muito neste nosso amor de amigos. Não existe entre nós aquele “click” que nos poderia levar a ser amantes, a nossa amizade é mais séria que tudo. Nunca sequer um beijo indulgente na bochecha escorregou para outro sítio. O respeito também impera sobre nós, e esse respeito dá muito valor à especial relação de amor que temos. Sabemos e sempre soubemos ser apenas e só aquilo que realmente somos, grandes e bons amigos. Raros são os tristes momentos que tenho para recordar com ela. Adoro fazê-la babar-se de tantos elogios que lhe prego. Mas duvido que algum falte à verdade. Todos são bem merecidos. Com nenhuma infinita quantidade de beijinhos seria capaz de demonstrar o meu eterno carinho e gratidão para contigo, por isso limito-me a apreciar o nosso chegado abraço que tanto gosto em ti e que tanto mais nos aproxima. Um abraço que vale por milhares de palavras e gestos bonitos. Um abraço chegado, uma profunda troca de olhares directos em que penetramos na mente um do outro e dizemos “Obrigado por existires”. Deixamo-nos então e seguimos a nossa vida até ao dia seguinte. Mas que essa despedida nunca deixe de ser temporária, que sempre possamos reencontramo-nos e voltar a abraçarmo-nos. Adoro-te. Amo-te amiga. Beijinho doce e terno*

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Passando a mão pelo cabelo, pelas memórias

Passava a mão indulgente pelo cabelo num gesto muito comum em mim. Lembrei-me, numa faísca de memória, que ele já esteve curtinho, quase rapado. Só não me lembrava quando tinha sido isso. Remexi um pouco cá dentro e revirei pensamentos como quem procura uma peça de roupa num monte desarrumado. Aos poucos comecei a lembrar-me. Lembro-me de que o fiz quando trabalhei na fábrica nas férias. Lembro-me que, antes de pôr o boné na cabeça para entrar ao serviço, e tal como o gesto que me trouxe esta curiosidade, passava a mão na cabeça e ao sentir o cabelo quase rapado sorria com o coração aberto. Às vezes no lugar de imagens ficam-nos gravados no pensamento sentimentos que facilmente reconhecemos. Foram esses sentimentos que me fizeram chegar a nostalgia da razão para ter cortado assim o cabelo.
Pois é! Pois foi! Foi naquela brincadeira... Num gesto de solidária brincadeira, estava a minha irmã internada, desafiei o meu cunhado a raparmos os dois também o cabelo quando a minha irmã tivesse que o fazer. Ela por força do cabelo a cair, nós por força de um gesto no meio do pouco que se pode fazer na luta contra aquela doença. Nosso dito e nosso feito. Quando chegou a vez dela chegou também a nossa. Soube então por telefone que ela tinha rapado o cabelo nesse dia. Do mesmo jeito natural que sempre teve desde o início, dizia brincando que se ria ao ver o seu novo look ao espelho. Santa força… Corri então a tratar de ir rapar o meu. A minha irmã fez questão que não fosse a pente zero e a sua vontade foi cumprida.
Na tarde do dia seguinte lá fui eu com o meu cunhado, os dois novos “recrutas” visitar a minha irmã. Nunca me senti preocupado com a minha irmã, a sua boa-disposição nunca mo permitiu. Mas naquele dia foi diferente. Pensava lidar bem com a imagem que ia ter da minha irmã mas as coisas não foram tão bem assim. Assim que entrei no quarto sorri. Bem, quis sorrir, e que grande esforço tive que fazer… Tive que reprimir a voz amargurada e as lágrimas não rebentaram por pouco… Mas ela sorria, sempre no seu sorriso de quem é convicto de que aquilo que não nos mata torna-nos mais fortes. Riu do nosso aspecto semelhante ao seu, e nós, contagiados, sorrimos com ela. As lágrimas a brotar que antes me faziam brilhar os olhos de tristeza, chocado com o seu aspecto, com a cabeça desprotegida que reflectia o estado frágil da sua saúde, faziam agora brilhar os olhos de alegria pela sua alegria. Era com gosto e com o mesmo brilho nos olhos que eu explicava a quem me perguntava, a razão do meu novo corte de cabelo assim radical.
No meio da minha vida já perco memórias umas por entre as outras. Às vezes já me sinto velho. Não com 60, 70 ou 80 anos, mas já com duas décadas de vida que há pouco deixaram de ser uma infância. Já chorei muito como criança e também já chorei como homem que sou há pouco tempo. Ainda há pouco tinha os meus 5 anos e passeava de carro com o meu padrinho. Ainda há uns dias tinha 10 anos, chorava a morte do meu padrinho há uns anos e lidava com a minha nova vida ao mudar de escola. Ainda agora tinha 15 anos, viajava pela primeira vez para fora do país até França. Ainda ontem tinha 18 anos, atingia a maioridade e gozava da nova liberdade de poder conduzir. Hoje tenho os meus simpáticos 20 anos e sou quem sou, sou aquilo que sou, o moralista que nasci, com os meus defeitos e as minhas virtudes que fazem, aqueles que gostam de mim, gostar de mim. Como eu gostava às vezes de não ser assim… mas é assim mesmo que sou, para o bem e para o mal.
O Tempo, esse cabrão pecaminoso por gula, que se consome a si próprio na exaustão da sua fome regular e insaciável, não perdoa. Não deixa escapar um cabelo de ficar branco, uma ruga de surgir, não deixa escapar o Presente de acontecer. Às vezes gostava de o deter, outras vezes de o acelerar, mas não sou capaz. Ninguém o é. E é por culpa dele que me sinto velho, que sinto que já tanta coisa aconteceu pela minha calma vida fora. É por causa disso que até já sinto os meus pensamentos e memórias baralhados e esquecidos.
Antes fosse só por mim que “esse bandido clandestino” com “mais olhos que barriga” me trouxesse a amargura com que me mata. No outro dia andava a brincar nas minhas bricolas, arranjando umas canalizações de rega, entretido nestas tarefas que me fazem sentir tão bem. Lá de atrás de casa onde eu andava na minha ocupação, observei a minha mãe que vinha a pé pela beira da estrada, vinda da sua jorna de limpeza na capela ali ao pé de casa. Há muito que já é difícil encontrar-lhe no rosto um sorriso regular, a morte do seu irmão tirou-lhe anos de felicidade. Agora, os 50 anos com que já conta fazem-na caminhar de forma curvada e triste. Tanto que me custa senti-la envelhecer! Os esforços que fazia na sua vida jovial têm agora que ser acompanhados pela minha ajuda. Ela, até por força das doenças que começam a aparecer exponencialmente nesta idade, já precisa às vezes que a ajude nas mais simples tarefas como mudar uma panela do fogão para a mesa, levantar a mesa da cozinha para lavar por baixo ou ir buscar alguma lenha para fazer uma fogueira. As tendinites crónicas, os princípios de osteoporose, os problemas associados à chegada à menopausa, a hipertensão, os problemas de nervos, são exemplos do que já faz parte do seu quotidiano. Custa-me, dói-me ver a sua angústia e o seu sofrimento de quem tem apenas a culpa de carregar o peso do passar do Tempo nas suas costas.
Esse cabrão do Tempo…
Lá atrás, no meio da ceara do milho, andava meu pai. Lembro-me de, em pequena criança, lhe ter pedido para jogar à bola comigo. Disse-me que não podia, não tinha tempo, que um dia que pudesse iria comigo até ao campo ali ao lado para jogar. Sei que lá vão 15 anos volvidos desde essa promessa e cumprida ela nunca foi. Era uma promessa simples mas ficou-me gravada na memória de uma forma muito especial. Hoje ele conta com 57 primaveras e já há muito que deixou de poder cumprir essa promessa. Nunca o censurei e nunca o farei, sei que não o fez porque não foi capaz. Tempo livre nunca foi o seu forte, sempre se privou de vida própria para poder tratar do seu trabalho em casa e do seu emprego de forma a garantir aos seus filhos uma vida o mais folgada possível. E esse esforço também se nota nele, apesar da sua engraçada barriga redonda que ostenta, o seu corpo é magro e o esforço assim o faz. Trabalha como formiga incansável e às vezes gostava que não se importasse de sacrificar um pouco da minha vida folgada para viver ele próprio um pouco a vida. Mas ele não é capaz. E o Tempo pesa-lhe nas costas.
Estão velhos. Estou velho. Ficaremos ainda mais velhos. Digo-lhes que aproveitem um pouco mas eles têm esse espírito de pais que não muda, “burro velho não toma ensino”. Que posso fazer eu? Deixar esse cabrão continuar a correr na sua angústia desenfreada de fome de caminho, de fome de Futuro. Que vá. Que vá e que me leve a dias melhores. Que faça as velas esticarem com a força de ventos de mudança para melhor. Que faça de mim um homem melhor, ainda que tenha que chorar. E já se sabe como é quando um homem chora… porque um homem também chora que assim tem que ser. Caminhando caminhando lá se vai andando. Hoje assim, amanhã nunca igual.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Uma nova paixão =)

Foi naquele longo dia. Depois de tudo o que havia passado surgiu como que uma saudade de estar perto dela. Depois do Rock In Rio, depois do almoço de convívio em Anadia surgiu mais forte que nunca. Fui apanhado por uma saudade tremenda e uma vontade de proximidade que me surgiram como uma revelação. Era aquela paixão por ela que havia estado todo este tempo a meu lado. Uma paixão que nasceu adormecida e despertou agora. Vivi um bom período da minha vida junto dela e nunca tinha reparado na falta que ela me fazia. Mas era. É. É uma paixão, uma forte paixão. Uma nova paixão nascida do antigo.
É uma paixão diferente. Diferente de qualquer outra. Neste amor eu posso estar diariamente com ela. Posso deitar-me com ela. Posso sonhar com ela e agarrado a ela, naquele abraço profundo de quem se sente tão bem acolhido. Quando acordo sorrio sentindo o seu amparo, a sua ternura, a sua maciez. Sonho durante o dia, acordado, em a reencontrar, em sentir de novo a sua apática paixão, o seu amor passivo de quem se deixa amar sem limites.
É uma paixão diferente. Uma paixão de quem sabe falar e desabafar para quem sabe ouvir. Ela sabe como ninguém amparar as minhas lágrimas de tristeza e, mesmo sem dizer nada, sem dar resposta aos meus problemas, sabe dar-me o consolo silencioso que tão bem me faz viver.
Agora mais que nunca, agora que percebo quanto gosto dela, treme-se-me o coração. Vou para longe. E que será de mim? Como poderei eu aprender a viver longe dela e de tudo o que ela me dá? Espero por lá, naquele outro canto do mundo, poder encontrar amparo semelhante, que não me faça sentir distante, que faça de mim um homem de coração leve, diariamente com a mesma dedicação.
Vivo e anseio estar com ela minuto a minuto, agarrado a ela, abraçado a ela, a viver um sonho literal e a pensar, pensar, pensar…
Como amo a minha almofada… Eh eh! =p
Desculpa lá Marianinha mas era mesmo surpresa lol não te podia contar… E desculpa lá se ficaste desiludida por descobrir quem era, mas a curiosidade é assim… lol Beijinho*

Um longo dia

Estava empanturrado no sofá a digerir as telenovelas que a minha mãe vê quando recebi uma mensagem. Os meus afilhados tinham ido dar uma volta ali por aquelas bandas e queriam que eu lhes pagasse um copo. Já era tarde e as reclamações da minha mãe logo se fizeram sentir. Ignorando o chorrilho de críticas saí de casa porta fora em direcção ao bowling. Faz-me falta viver, deixem-me aproveitar antes de ficar um velho caquético que não pode sequer berrar com os árbitros sem se habilitar a ter uma crise de hipertensão. Prego a fundo e com a adrenalina a bombar, cheguei num instante. Lá estavam eles na paródia com os copos de imperial vazios à frente.
A noite foi calma mas porreira. Sempre a sumo mas animado, juntei-me a eles na claque do karaoke. Uns joguitos na máquina de discos, umas caralhadas e gargalhadas ocuparam-me ali umas horas. De regresso a casa, mais calmo e devagar, fui-me deitar.
Haviam passado pouco mais de três horas e o despertador do telemóvel já me arrancava do meu sono reparador. Saltei da cama a custo e tratei de me preparar. O carro apitou lá fora. Seguimos para a estação e felizmente a maldita da greve não atrasou o comboio mais que vinte minutos. Carregando o rapaz às costas por causa dos altos degraus lá entrei com a minha campanha no comboio. Well, se íamos um pouco a dormir esse sono não durou muito. Malta da Figueira já embarcada fazia a festa no comboio, uma festa animada bem regada com cerveja, Malibu, Vodka, um saboroso de 12 anos e Coca-Cola para as misturas. O revisor era já apelidado por “pica”. “Papa decotes alééé, papa decotes alééé…”, “e salta pica, e salta pica, olé, olé!”, “Ia o pica na rua a correr, com um caralho no cu a bater, quanto mais o pica corria, mais o caralho no cu lhe batia” esta sem ele ouvir, claro. Bem, digamos que nem mesmo o “pica” conseguiu aguentar o seu semblante sério por muito tempo e apesar do barulho o resto da tripulação parecia rendida à animação daqueles bobos regados a álcool.
Desembarcados já em Lisboa eram horas de almoço. Apanhámos o metro na direcção da Bela-Vista. Já se sentiam as formigas a caminhar na direcção do mel. Sempre por acessos reservados e entradas exclusivas à imprensa para facilitar a chegada do rapaz, lá entrámos nós ao mesmo tempo que os fanáticos doidos que ambicionavam ser os primeiros a inaugurar o recinto naquele dia e chegar aos lugares bem perto do palco.
O acesso condicionado para pessoas com dificuldades era uma bancada perfeita com vista mesmo exclusiva para o palco e para aquela multidão eufórica. O que se seguiu com o início dos concertos… bem, só visto e ouvido. Os arrepios com aquela visão trepidante e com o som envolvente eram uma constante. Por muito que gostasse nunca conseguiria transcrever aqueles sentimentos fantásticos que lá se viviam. O clímax veio mesmo com os Linkin Park. Aqueles malucos sabem mesmo como dar a volta à cabeça de uma multidão já eufórica.
Só mesmo quem lá esteve pode saber como foi. Fica a certeza da vontade de um regresso em 2010.
Ui… Quem é que encontrava um táxi livre… Ao fim de umas horas lá conseguimos apanhar um táxi até ao oriente. Um curto fechar de olhos até à hora do comboio de regresso a casa. Entrando sentiu-se o silêncio, os nossos amigos não estavam ali para continuar a animação lol uma curta sesta até casa.
Um banho rápido. Vestido e pronto lá fui com os meus pais até Anadia. Vinha de uma directa e bem cansado, até porque na noite anterior apenas havia dormido umas trê horas. Esta ocasião era diferente. Íamos a um almoço de convívio de ex-combatentes do ultramar em Moçambique, já realizado há alguns anos no primeiro sábado do mês de Junho.
A bandeira da companhia de artilharia avistou-se ao longe à beira da estrada. A recepção foi feita com sorrisos e palmadas nas costas, alegria por poder reencontrar colegas e amigos oriundos do extremo Norte ao extremo Sul de todo o país. Afinal muitos deles já ficaram pelo caminho e não presenciam este dia como os que cá estão. A conversa é animada, a esposas trocam impressões e as que se conhecem trocam novidades. Os maridos envoltos na necessária boa disposição trocam gargalhadas divertidas e animadas. Eu e o fotógrafo registamos o momento com a máquina de filmar, gravamos as conversas mas os sentimentos não cabem na fita.
-Pessoal, o almoço está à espera!
As gentes entram então no restaurante. É pequeno e não tem muitas condições, mas a proximidade humana nunca fez mal a ninguém. Observo então quem está. Poucos são os jovens como eu que gostam de acompanhar os pais a presenciar a nostalgia destes encontros, e vê-se de ano para ano a evolução da descendência ali presente.
O Ferreira, homem do Norte, ali sentado ao meu lado não dispensa a sua função de comediante e anima a mesa com piadas arrojadas. A mesa adere, ele sabe pôr as pessoas a rir com a sua boa disposição. Limpas as entradas chega o primeiro prato. Lá a meio do arroz de marisco confessa-me o Ferreira, meio a sério, meio a brincar:
-Come rapaz, come, come para compensar a fome que o teu pai passou lá no mato!
Eu, sorridente e bem disposto concordo com ele:
-Oh homem, fique descansado que se não como mais é porque não cabe…
-Então enfia para dentro de um saco e leva para casa! Come para compensar os meses que o teu pai passou a ração de combate!
Podia ser um conversa séria mas era apenas uma brincadeira de quem corajosamente sorri do Passado, do que já lá vai, do sofrimento e da angústia.
O leitão veio a seguir para honrar a fama daquela região ali à beira da Bairrada.
Após a sobremesa e partido o bolo já as conversas vão bem rodadas. Nalgumas vezes noutros anos um discurso irrompeu de um corajoso em recordar cenas daqueles tempos. Sendo apenas sincero e directo rapidamente os olhos de todos ficaram marejados de lágrimas. Aquele homem, de quem já não me recordo bem do nome nem sequer da sua cara, contava ali as cenas de horror que passou. Uma guerra é sempre uma guerra. Nunca é pacifica. A juntar-se à fome, aos enjoos da ração de combate, às doenças das águas inquinadas, à paranóia de só ver mato à frente, junta-se a angústia de ter que matar. De matar ou ser morto. Era guerra que se tinha vivido e ele ali contava. Soluçava nas palavras e os seus olhos brilhavam no cristal das suas lágrimas de profunda tristeza. Afinal não é todos os dias que se nos morre um camarada amigo nos nossos braços, com a nossa dura sensação de nada poder fazer a latejar no peito… Desatava aos tiros, tentava vingar a morte do amigo, procurava a calma no meio de tudo. Como lhe custou reviver esse momento para o partilhar. É duro. Foi duro. Abstenho-me às vezes de fazer perguntas ao meu pai nesta forte curiosidade de saber pelo que passou para não o magoar com as suas duras memórias daquela vida. Limito-me a vê-lo comentar as fotos que por lá tirou, os amigos que o destino separou dele e que ele confessa como gostaria de reencontrar.
Este ano foi calmo, não houve discursos. O grupo saiu para o abrigo da sombra de uma árvore ali perto e foi à foto de grupo. Brincando com o marchar, com o abrir fileiras, com as paródias que também houve naquele tempo, a animação faz-se sentir. Dois “click” e volta-se para o fresquinho da sombra do restaurante. É sempre um dia de fortes emoções, da mais forte alegria à mais dura tristeza. As conversas avançadas e já longas começam a rumar em direcção ao seu términos. Em jeito já de despedida brotam as últimas lágrimas, daquela esposa que lida com um problema crónico do filho diariamente, daquela esposa que conta a leucemia com que lida a sua filha, daquela esposa que conta como perdeu o seu filho num acidente de automóvel, daquela outra esposa, que em solidariedade, conta como um colega dos seus maridos perdeu a esposa assassinada num assalto à sua própria casa. Os maridos têm angústias do mesmo modo, são os pais daqueles filhos de que as esposas são mães. Partilham as suas doenças, os seus males, as suas tristezas, os problemas e os cancros da sociedade. Mas, vividos e corajosos como a vida os fez, já todos com mais de cinquenta, partilham também a boa disposição escondida lá no fundo, a esperança comum de dias melhores e de que para o próximo ano, noutro ponto do país, se possam encontrar vivos e não piores.
Restam poucos e muitos já rumam a caminho de casa. É a nossa vez, queremos chegar a casa a tempo do jogo de Portugal. O jogo valeu a pena. Jantado e cansado, com o meu pequeno coração atrofiado de emoções fortes, do dia e de há meses atrás, busco o meu leito. A cabeça pesa e não dá azo a muitos pensamentos. Em poucos minutos adormecia, estafado por um longo dia…

Amarrar-se ou soltar-se

“A Âncora nunca falhara. Esforçara-se por isso num sacrifício silencioso. E desprezava quem não fazia o mesmo.
-Sou a Âncora! Tudo pode falhar no barco, mas eu não falharei! Sem mim todos ficam em perigo. Sou a peça mais importante!
Amarrada na quilha da proa, a Âncora falava consigo mesma. Deslizava contente no barco, junto à costa, no mar do entardecer de Verão.

Saindo do nada, o Balão vermelho, rechonchudo, passa dançando. Os raios de Sol ao encontrá-lo, difundiram-se em clarão avermelhado como se fosse um novo astro. A Âncora ficou impressionada:
-É lindo! Mas de que lhe serve? Parece só ter o objectivo de se deixar levar – não interessa onde, nem se é essa a suja vontade. Tolo Balão! Que desperdício de existência! Levado à toa, pavoneando-se por nada, sem qualquer utilidade! Eu, sim, faço a diferença!
Cada vez mais contente consigo mesma, olha com desprezo o Balão dançante. Do alto, feliz com a vida nova, o Balão deixava-se embalar nesta aventura que não escolhera. Era apenas “um balão” quando o vento passou de rajada e o apanhou distraído. Então, sentiu-se levantar como se voasse. Estava encantado. Queria permanecer assim! Mas, foi breve. O vento arrastava-o para longe, muito longe.
Começou, então, a sentir frio. Pela primeira vez, sentiu-se perdido. Lá em baixo, uma paisagem azul, sempre igual. Ou não!? Qualquer coisa movia-se. Era um barco. Queria descer ao seu encontro. Mas, sentiu um calorzinho especial quando um raio de Sol o inundou. Virou-se, revirou-se, fazia piruetas… Sentia-se reluzir como se uma explosão se luz tivesse acontecido dentro de si. Era novamente um balão feliz!
-Não sei onde estou, mas alguém há-de cuidar de mim! Não tenho que me preocupar!
O Balão subia, deixava-se levar. Sem perceber porquê, sentiu uma pressão e um peso insuportável. Não tinha nada a se apegar. Não conseguia libertar-se, nem sequer pensar. Não sabia onde estava, para onde iria… afinal. Não sabia nada e deixou-se ir. Sentiu-se a desintegrar. Rebentou! Ficou em estilhaços. Cada bocadinho de balão foi caindo, perdido no espaço, até desaparecer no mar.
A Âncora presenciou tudo horrorizada. Pela experiência, sabia que o risco era grande: não se podia abandonar assim ao vento, sem controlo. Que irresponsabilidade! Para quê destruir-se? Sentia-se mais confortável, toda a vida acorrentada, a fazer os mesmos percursos, do que ser livre e arriscar a partir – liberdade que até já sonhara em segredo, mas que abandonara sem resistência. Olhando para o seu desgaste e ferrugem, reforçou a certeza de que o seu destino era o melhor que podia desejar.

No convés, o João tinha a primeira lição. O pai construíra com ele o Papagaio de papel leve e colorido, colado numa estrutura hexagonal quase perfeita. Era uma arte de família que o pai tinha todo o orgulho de lhe ensinar. A completar o trabalhar de ambos, escolheram o melhor local para apanhar o vento de feição. O pai subiu a escada e assobiou para o João:
-Podes preparar! Espera! Puxa agora!
Largado no ar, o Papagaio sente o vento a levantá-lo. Mas um solavanco do João a puxar o fio, fá-lo descer repentinamente e de imediato galgar o céu, cada vez mais alto. À medida que o Papagaio “pede” para subir, o João rejubila e faz deslizar o fio. João e pai, lado a lado, vão ajustando o impulso e o comprimento do fio à direcção do vento.
-Que lindo é tudo cá do alto! Que leve me sinto… Uau! – é a expressão máxima do Papagaio de cauda multicolor.
O Papagaio olha de relance para o João, assegurando-se de que o pai estava lá.
-O João é muito arrojado e isso dá-me espaço para voar, mas a sua inexperiência pode ser perigosa e deixar-me enroscar no mastro, ou cair nas ondas, ou… Bom, está bem acompanhado: conheço a perícia e prudência do pai. É perito a controlar quedas. Transforma-as em impulsos para novas alturas.

O Papagaio olhou para si e para o espaço, com olhos de quem está no alto, livre e leve. Viu a sua estrutura cuidadosamente montada, sentiu-se forte, resistente a rajadas potentes. Sentiu o valor de ser também feito deste fio que oferece protecção, impulso, reacerto, possibilidade de voar e de regressar. E olhando a proa do barco, viu a Âncora acorrentada, ainda robusta, amarelada pela ferrugem e desgastada pelo tempo e pelas tempestades. Estava orgulhosa, pronta a actuar. Ela olhava para ele, Papagaio, por momentos esquecida do seu peso que fazia parar o barco. E, do canto, a Âncora segredou-lhe:
-Prometes, Papagaio, nunca te desprender do fio que te liga ao real e aprender a sonhar, subir, voar, sem te deixares enferrujar ou destruir? Quando levantas voo, alimentas a magia dos sonhos de menino e semeias a esperança colorida de quem constrói papagaios!
Desde então, sempre que o Papagaio levanta voo, leva na bagagem os sonhos de menino e a liberdade de quem sabe colorir o céu, construindo papagaios.”

A história não é minha, mas dificilmente algo podia transcrever melhor o meu frequente dilema. Vivo muitas vezes com o espírito da Âncora, agarrado a tudo e com medo de me soltar. Nunca fui como o Balão que se deixa soltar sem estar preso por um fio, sem segurança, sem uma ligação mínima, mas felizmente estou a aprender a viver como o Papagaio, a soltar-me sem deixar de estar totalmente amarrado, com um fio de segurança a prender-me ao real. As quedas são reais, mas se as houver também servirão para mim como impulso a novas aventuras e consolidarão a minha experiência
Devemos dar um espaço a todos os nossos sonhos. Devemos saber subir bem alto e não ter medos ou preconceitos que nos impeçam de sonhar ou de levar os nossos sonhos avante. A preparar-me para escrever o livro, a caminho da Roménia, sou agora um Papagaio feliz preso lá no alto a observar quão bonitos são os sonhos de menino, de um menino agora grande por fora, um pouco pequeno ainda por dentro, próximo dos sonhos, próximo da felicidade.

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Coimbra às vezes faz-me mal



Coimbra às vezes faz-me mal. Esta cidade velha inundada de pândegos pilgrims que procuram um melhor futuro consegue ser o Paraíso e o Inferno.
Nunca quis vir estudar para Coimbra, na minha inocência de quem pouco conhecia nunca simpatizei muito com Coimbra. Fui mudando de opinião e escolhi quatro opções para Coimbra na candidatura ao ensino superior. Talvez na minha infantil inocência tivesse mais razão do que na minha mais adulta consciência. Coimbra dá-nos o melhor… e o pior…
Cheguei cá como qualquer caloiro, atrapalhado, desorientado, sem saber ao que vinha. Fiquei maravilhado com a forma como era tão simples fazer amigos ao virar de cada esquina, como era fácil socializar, como todos eram os adultos que não há numa escola secundária. Passado um ano descobri, entre caloiros e doutores, mais crianças do que desejava, uns foram e são importantes na minha vida, outros ignoro-os na sua infantilidade. Consegui sempre ao longo deste tempo manter um círculo social de muitos e bons amigos, algo muito valioso que nunca antes na minha vida havia experimentado. O convívio, a entreajuda, a proximidade, os extremos, os abusos, os risos acerca dos abusos, a vida na palma da mão e a sorrir para ela, a sorrir do mais inteligente e a rir do mais estúpido, vida feliz de mágoas afogadas e malas aviadas para a próxima cambalhota. Aprendi a ser muito feliz e muito triste. Apanhei também muitas desilusões, dei muitos trambolhões, quedas, tenho muitas cicatrizes. Coimbra deu-me o melhor… e o pior…
A necessitar de férias de Coimbra alargo os meus horizontes. Há experiências fantásticas por viver. À procura também de novas valências para o meu currículo informo-me sobre o programa Erasmus. Sempre gostei de novas experiências, contacto com outras culturas, e adorei a última vez que pude experimentar algo do género mesmo cá em Portugal com quarenta mil outros jovens oriundos de toda a Europa. Apesar de adorar o meu sofá não é lá que pretendo passar a minha juventude. Quero poder ter algo mais que contar aos meus filhos do que a programação televisiva da altura em que fui jovem. Quero poder contar-lhes cenas caricatas e engraçadas que marcam a nossa vida em outros pontos do mundo, tal como me conta às vezes o meu pai (no pouco tempo que podemos passar juntos) situações engraçadas vividas em Moçambique aquando da sua passagem na guerra.
Tanto me lança e tanto me prende. São seis meses que planeio, sei que não me vou arrepender se o fizer, mas tenho tanta coisa a prender-me aqui, custar-me-ia separar do bom que tenho… Tenho pouco mais que duas ou três semanas para me decidir e ainda tenho algumas dúvidas. Todos me aconselham a ir, a viver um experiência única na vida, e estou na altura mais adequada para o fazer. Uma decisão há-de surgir.
Tenho pena desta cidade velha, envelhecida. Talvez gostasse de estudar noutro sítio, talvez preferisse esta pequena capital. Não sei. Sei por certo que não vivi aqui nem mais nem menos que aquilo que tinha para viver. E também sei porque às vezes me faz mal. Afinal Coimbra apenas me ensinou o que é e o que sempre será a vida, o melhor… e o pior…

segunda-feira, 17 de março de 2008

O sabor da vida

Custou mas foi. Não me apetecia, como tantas vezes não nos apetece tirar o rabiosque do sofá ou da cama. Mas fi-lo e não me arrependo de ter ultrapassado a minha preguiça para vir dar um passeio até à praia.
Qualquer comum dos mortais vive a pensar e a tentar descobrir porque raio se nos deparam pela frente obstáculos e dificuldades. Esse é o segredo do sabor da vida; uma vida sem dificuldades, sem obstáculos, sem metas a atingir é uma vida sem sal, sem sabor.
Podia simplesmente voltar para casa, o frio não é convidativo, o vento teima em querer arrancar-me as folhas, a areia entranha-se-me nos sapatos, a água liberta a sua espuma castanha de poluição que reflecte o igual modo em que se encontra a areia, as nuvens que tentam esconder o sol ameaçam chuva, mas nada disto me demove, tudo isto apenas me faz libertar um sorriso desdenhoso e vitorioso de lutar com estas pequenas adversidades apenas para presenciar emocionado a ambiguidade imponência/acalmia que faz este mar fascinar-me de forma tão certeira.
Diariamente presenciamos situações de jovens ricos que nascem em berços de ouro e crescem numa vida sem sentido, com tudo o que podem desejar mas com um temor de viver, com medo de provar a adrenalina, uma situação provocada pelo excesso de proteccionismo dos pais. Estes jovens tornam-se desprovidos de alma e personalidade e vivem sem objectivos.
É complicado assistirmos a cada vez mais cenas de doenças complexas, dramas da vida, problemas que nos fazem chorar, chorar de desespero, incredulidade.
Nunca ninguém disse que a vida era fácil e realmente ela não é.
Mas desenhemos um sorriso no nosso semblante triste e sério porque é em tudo isto que está a essência da vida. Haverá algo que mais nos faça encher o peito de orgulho que o sentimento que nos invade quando resolvemos os nossos problemas? Quem não gosta de desafios? Quem não tem amor pela vida e lhe põe termo por não conseguir resistir.
Há que tomar gosto por esses desafios e fazer deles medalhas que fazem de nós pessoas melhores, bandeiras que marcam o nosso rumo de forma gloriosa.
Nada melhor que ter a nossa vida em risco para lhe dar o devido valor, nada melhor que isso para sabermos como brindar os pequenos momentos que dão brilho ao nosso percurso terreno.
Concordai comigo que um beijo tem muito mais valor quando é roubado, quando temos que lutar ou quando temos que esperar por ele. É lei da natureza que o que é raro tem mais valor e assim são os momentos de tranquilidade da nossa vida, por se afigurarem raros tomam assim um sabor imenso que dá o verdadeiro sabor à vida.
Perante adversidades não devemos chorar, devemos estampar um sorriso sincero de quem gosta de desafios e trará um pouco mais de valor a si mesmo.

Os cinco jovens parecem crianças, têm aspecto de imigrantes, talvez brasileiros. Brincam de forma despreocupada tal como tudo deve ser vivido. Às vezes gostava de ser assim, mas nem eles realmente o são, apenas tentam fugir um pouco aos seus problemas. Amanhã de volta ao trabalho por certo os acompanhará de novo o desespero de quem não vê o dia a chegar ao fim, de quem se sente a acabar, mas por certo num outro dia soalheiro eles voltarão aqui a esta praia, voltarão a brincar como crianças, voltarão a esquecer os seus problemas por alguns minutos, por algumas horas, o que fará deste momento para eles um momento bastante valioso, porque é raro.
Na minha juventude quase ausente de amigos nunca tomei o prazer de ser apreciado por alguém, felizmente hoje é com nostalgia que vejo uma dedicatória no caderno de inglês em que escrevo. Se pudesse ficava aqui até de noite, mas o meu dever e a minha obrigação chamam por mim, aqui salto eu do sonho para voltar a casa, para preparar as malas, para partir para Coimbra, para reencontrar os meus novos amigos, para terminar mais um dia do resto da minha vida, mas claro, com a esperança de poder reviver um momento valioso como este…

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

=)

Por entre risos descobrimos a verdade, começamos com sorrisos mútuos, passamos por olhares cúmplices e acabamos por tomar o sabor do beijo. A pessoa que está do outro lado já não é mais um simples conhecido, em dias apura-se a confiança, a sinceridade, trocam-se carinhos e sentimentos, nada mais é como antes.
Não se encontra alguém especial fazendo esboços e procurando a pessoa perfeita, por vezes o simples acaso (ou obra do destino) faz chegar a outra metade da laranja. Não são duas metades da mesma laranja nem encaixam milimetricamente, mas têm em si um segredo especial, sabem aceitar os pequenos defeitos, as pequenas diferenças, os pequenos contras, os pequenos "se", os pequenos "mas", tudo aquilo que faz deles tão diferente e tão iguais.
A percepção do significado da pessoa especial chega leve, como um sussurro do vento que nos diz algo imperceptível e que o nosso coração descodifica. Decidimos apostar nas sugestões do vento e seguimos caminho em busca do coração da outra pessoa. Nem sempre a viagem vale o esforço, muitas vezes temos quase a certeza que corremos em direção ao fogo, ao gelo, às lágrimas de frustração e indignação por os nossos sentimentos não serem correspondidos. Há gente que vive anos e anos nessa busca infrutífera, mas quando a verdadeira recompensa chega o nosso corção sobe ao céu de alegria, do sentimento mais belo e reconfortante. Como é bom saber-se e sentir-se amado... =)

Suposições =s

É fácil dizermos que somos pessoas decididas, fazermos parecer que seguimos objectivos claramente traçados, no entanto essa imagem não corresponde a qualquer realidade existente. Eu próprio sou confuso e a minha cabeça anda em turbilhão muitas vezes por causa da bifurcação de rumos com que o meu coração se depara pela frente frequentemente.
Vivemos num mundo de aparências, aparentamos que tudo corre bem, e para ser alguém na sociedade às vezes aparentamos ter nascido em berço de ouro quando na verdade não vivemos se não num berço de lata. Há coisas de que não nos orgulhamos mas os problemas são para ser debatidos, existem os amigos, e caso não haja solução sempre resta o consolo de um ombro amigo ou um abraço apertado que em tudo ajuda... Ninguém é perfeito, nenhuma família é perfeita, todos temos problemas, nada nos resta de mais eficaz que aprender a viver com esses problemas, a vida é curta e o stress e a preocupação matam, não queiramos morrer, saibamos pedir e receber um sorriso, uma palavra, uma gargalhada, don't worry, be happy... ;-)

A outra página

Uma lufada de ar fresco, de madrugada vagueio pela rua, hoje sozinho, daqui a uma semana belamente acompanhado.
Uma semana bastou para que a página se virasse e eu me visse noutro mundo, um mundo onde não queremos que caiba o ódio, onde ele não cabe mesmo, um mundo cheio de coisas bonitas. Antes fosse o mundo real, tudo seria melhor e bem menos complicado.
Um dia de cada vez, um passo de cada vez, uma golfada de ar de cada vez, a vida é para ser aproveitada assim como as dádivas que ela nos trás, e o amanhã... o amanhã? O amanhã o futuro nos dirá como é, mas viver é sem dúvida o melhor remédio...

Estou aqui...

Não vou mentir e dizer que não espero por ti, não sou capaz disso, vivo e anseio pela tua chegada. Não vou correr atrás de ti, vou esperar que tu venhas quando tiveres que vir, não tenho pressa. Depois de tudo o que passei consegui crescer, hoje só quero chegar ao coração de quem quiser chegar ao meu, ele está aberto mas não pressiona ninguém. Ja não sou quem fui e orgulho-me disso. A vida nem sempre me traz o que dela espero mas não reclamo, deixo correr o destino pelas veias do tempo. Quero viver calmo e sereno ao sabor da vida, ao sabor do que está para chegar e não na ansiedadade e inquietude da espera pelo que tanto desejamos. Hoje ja não corro pelo beijo dela, passeio à beira-mar e espero que o feliz acaso a faça vir ao meu econtro, os lábios dela de encontro aos meus. Se assim não fizer voltarei a ser quem nao sou, um eterno enamorado por sombras em noites de luar, sombras ténues e fugitivas, sombras que a vontade não traz, leva. A outra página que leio agora em mim é uma página de espera tranquila, espera de sombras dos belos dias de sol radioso, sombras definidas, fortes e verdadeiras. É tempo de ser e de deixar correr, tempo de impedir que eles façam um deserto onde dizem fazer a paz, tempo de reconstruir as nossas bases e parar com o crescimento despreocupado que mais cedo ou mais tarde nos faz cair...

Tu por todos, todos por ti!

Há alturas na vida em que a nossa teia organizacional começa a crescer e os planos começam a ganhar forma. Mesmo cada vez com menos tempo, com a aproximação do casamento e consigo todo o trabalho, vocês tiveram ainda coragem para abraçar o desporto e dar rumo a umas meninas no futsal.
Tudo decorria dentro da normalidade com os naturais altos e baixos na preparação daquele momento único. Não só os anfitriões como também quem vive à sua volta sonhavam com a chegada desse dia. Mas surgiu do nada um tiro que furou com todos os planos.
Foste ao hospital por um problema que não sugeria grandes preocupações mas eis que o teu anjo-da-guarda se cruza no teu caminho, o teu estranho estado levantou-lhe suspeitas e foste internada de urgência. Era óbvio que o problema era no mínimo grave, e depois de muitos telefonemas para o hospital a resposta mais esclarecedora que obtivemos foi: “Isto não são assuntos que se tratem por telefone…”.
Não foi propriamente uma declaração que nos levantasse o espírito. Mas o pior veio no dia seguinte quando a mãe chegou a casa de te visitar com um semblante que falava por si e as nossas piores suspeitas se confirmaram, leucemia.
Ninguém se atreveria a censurar a tua pessoa se tu te deixasses abater. Mas isso simplesmente não aconteceu, com toda a acalmia do mundo tu soubeste dizer ao teu futuro marido o que se passava e que o casamento teria que ser adiado.
Daí para a frente foi um espanto a forma como sempre soubeste lidar com o que te afectava quase como se não se passasse nada. Arriscaria mesmo dizer que quem olhasse para ti nunca diria que estavas doente. Sempre soubeste acalmar as preocupações de quem se inquietava por ti de uma forma quase natural e o teu sorriso sempre nos soube dizer que estavas bem de espírito. Numa altura em que tu própria podias necessitar de apoio deste por ti a apoiar outras pessoas com o mesmo problema. Nunca tiveste esperanças, sempre certezas. Não é um facto que se diga cientificamente comprovado mas qualquer médico sabe que um espírito positivo e uma moral alta são meia cura.
No meio disto tudo, com a tua força que tudo superará deste-nos uma grande lição de vida. Aprendeste e ensinaste-nos que as coisas boas da vida jamais devem ser adiadas pelas futilidades do nosso quotidiano mas devem ser aproveitadas, um acontecimento destes faz sempre pensar a toda a gente e faz-nos dar outro valor à vida.

Amores de Verão

“Amores de Verão enterram-se na areia” A frase toma sentido quando no Verão conhecemos novas pessoas em momentos por vezes fortuitos, pessoas que pela diminuta quantidade de roupa nos parecem mais atraentes. Findo o Verão sabemos ter que esquecer essas pessoas, acabam-se as férias, voltamos para casa e esquecemos o que se passou. Com a devida razão que lhe é atribuída devia ser fácil cumprir com o ditado, e antes fosse!
Acontece que no Verão também surgem daquelas pessoas que nos deixam siderados como algo sério. Também com meros acasos passamos a conhecer alguém deslumbrante, interior e exteriormente, passamos alguns dias divinais e depois acontece a inevitável partida de uma das partes. Até aqui tudo normal, passado um ano não há regresso mas as saudades não arredam pé, a chama mantém-se viva como na partida.
Passam 2, 3, 4 e só ao fim de 5 anos acontece o regresso, agora já com alguém a seu lado, sem tempo para matar saudades, nada mais além que breves trocas de palavras. O destino trai as nossas ambições no seu percurso regular, umas vezes o bom, outras vezes o mau da fita, ele é assim mesmo e nada pode ser alterado, “maktub”.
A nova despedida, de início simples, torna-se pesada com o aparecimento do silêncio constrangedor, apesar de a parte que vai partir novamente se aguentar bem, já com vida traçada e rumos minimamente definidos em torno não da vivência mas da sobrevivência. A parte que fica inunda os olhos de um brilho pesaroso de quem sabe um reencontro para muitos anos depois ou talvez para nunca mais. “Boa viagem” é tudo o que sai.
Os 5 anos de espera não foram calmos, nada nunca fez apagar a chama que se acendeu nuns meros 3 dias. A paixão está presente, o resto do sentimento confunde-se entre o amor e a obsessão. Momentos duros os de recordar a beleza escultural e completa do corpo e a simplicidade amorosa da alma. Pode não saber falar inglês, pode não gostar da aldeia, pode até nunca ter ouvido falar nos U2 mas a sua simplicidade apaixona.
Foram 5 anos de ideias arrojadas e obsessivas, ideias de largar tudo para estar perto dela, ideias às centenas das quais não escaparam para a realidade mais que umas simples mensagens de amor ou umas cartas sinceras, manifestações que nunca levaram mais que uma bela resposta de amizade, uma amizade que tortura e que não podia existir. Ideias que nunca foram postas em prática, ou pela cobardia ou (por outro ponto de vista) pela capacidade de perceber que qualquer desses gestos nunca levaria o devido valor da outra parte, ideias em vão.
5 anos depois, após o reencontro e após a despedida, surge o arrependimento pelo desejo de a voltar a ver. Uma chama que se julgava um tanto ou quanto adormecida após anos de rescaldo, voltou a avivar-se, a tomar fulgor e a ferir uma ferida nunca sarada. Vale a nova vida da parte que fica, uma vida recentemente recheada de gente nova e de tal modo ocupada (ou com o trabalho ou com o estudo) que deixa pouco tempo para juntar pensamentos ao monte dos desperdiçados.
Salta-se da imaginação para a realidade e percebe-se que só com muita sorte à mistura é que um amor impossível deixa de o ser. A ele não resta nada mais que disfarçar com alguém valioso a lacuna que nunca será completamente preenchida.
Houve em tempos paixonetas por raparigas bonitas mas isto em nada se assemelha a isso, hoje ele cresceu, sabe distinguir um fraquinho de um amor e é capaz de dizer que aparte dela nunca amou ninguém. São palavras sinceras gastas em vão com pessoas que não lhe vêem o devido significado à semelhança do artista que fica cabisbaixo ao notar a errada percepção do significado da sua obra de arte. Quem escuta estas palavras incita a partir para outra, outra mesmo que seja uma amiga. Ele sabe, por experiência própria, que as duas coisas não se devem misturar e fica perturbado com a ideia, tanto mais que ele sabe a necessidade de ter alguém a seu lado mas prefere esperar pela pessoa mais adequada para ocupar o lugar dela.
Há pensamentos que transcendem a superficialidade do desejo sexual imediato mas ninguém quer olhar para isso senão quando assistem a um filme. Ele tem medo de não ser compreendido e de não ser bem interpretado, quando encontra alguém que quase lhe lê a mente, alguém de um profundidade impressionante vastamente ao seu nível, essa pessoa esvai-se-lhe por entre os dedos como areia fina e seca por entre desculpas de indisponibilidade e anti-depressivos. Ele sabia não advir daí a melhor satisfação das suas necessidades do sexo oposto, mas outras aventuras em que o desejo sexual pode ser completado revelam-se insossas, sem personalidade e sem profundidade de intelecto. Duas partes essenciais mas separadas em pessoas diferentes.
Acontece demasiado frequentemente, juntam-se duas pessoas diferentes, que não se completam, têm sexo duas a três vezes por semana, jantam com a família dela ao sábado à noite, e vão ao cinema, almoçam com a família dele ao domingo e repetem este ritual até terem casa própria, altura em começam a tratar da própria vida em casal. Vão para a cama e viram-se um para cada lado. No dia seguinte ela leva os filhos à escola, ele vai trabalhar. À noite trocam meia dúzia de acusações aos berros e terminam a refeição em silêncio dormindo novamente como que em camas separadas. 90% das relações seguem estes trâmites, uma vida sem sabor e sem sentido. Ele não quer ser assim e sabe que vai sofrer por causa disso, mas não se deixa abater, mesmo sabendo que não a volta a ver ou que nunca a terá seu lado da maneira que deseja ele espera encontrar alguém que o complete para além do corpo.
Deverá aproveitar a vida só porque é jovem e viver aventuras sem futuro? Ele gostava de saber mas não tem quem lhe responda e sabe que esta pergunta é só mais uma sem resposta. Por ora preocupa-se com o presente e com a forma de ultrapassar os obstáculos do dia-a-dia, ter pensamentos verdadeiros e profundos num mundo cru e insensível é coisa a que só se pode permitir sozinho ao adormecer, quando o tempo não tem valor e quando pode estar sozinho e à vontade com a única pessoa que realmente o compreende – ele próprio. Agora vive um dia de cada vez, porque no início da sua fase adulta sabe que dar passos grandes exige muita preparação, coragem e consistência no saber o que está a fazer, prefere passos pequenos que sabe não resultarem em mais do que quedas pequenas.

Sadness

É triste quando estamos sós, mas mais triste é quando nos sentimos sós quando estamos rodeados de gente. Uma semana de férias em que vi e revi muita gente e sinto-me só e aborrecido.
Eu gosto muito de pensar e faço-o. Sou observador nato e procuro uma razão de ser para o mínimo pormenor, que não seja o acaso. Nessa minuciosa observação há muitos e longos momentos de profundo pensamento em que me apercebo de realidades tão óbvias ou simplesmente de factos que se realçam pela natureza dos acontecimentos à volta dos quais eu me centro. Desta feita vi em mim não a falta de uma mulher em sentido corporal mas aquilo de que mais sensatamente se pode chamar amiga. É deveras complicado conseguir achar alguém cujo fundamento intelectual se assemelhe ao meu, e nas raras vezes que isso acontece eu consigo estragar tudo pela atracção física que acaba por se gerar. Não uma atracção baseada na beleza física mas sobretudo baseada na necessidade mútua de cumplicidade do sexo oposto. Não consigo mais do que escassas horas de diálogo coerente de igual para igual, passado este curto prazo ocorre a cumplicidade e posteriormente o afastamento. O afastamento é simplesmente prova do receio de ambas as partes da possibilidade dos débeis sentimentos poderem tornar-se mais fortes e do receio de que a falta de maturidade dê asas a uma relação sem estrutura.
Fala-se num desenvolvimento precoce das novas crianças que de todo não foge à realidade. No entanto a falta de privação da comodidade do nível de vida actual e o comodismo tremendo que afectam a sociedade, levam à evidência de um infantil atraso no desenvolvimento da maturidade. As crianças iniciam cedo a aventura do conhecimento mas começam cada vez mais tarde o desenvolvimento próprio de maturidade e de capacidade de decisão própria. Este problema assemelha-se a uma comum ideologia de que os medos só são vencidos quando enfrentados. A maturidade é a vitória sobre os medos. Os actuais jovens, por virtude da evolução, do excesso de proteccionismo dos pais e da significativa melhoria do nível de vida, demoram cada vez mais a tomar vida própria. Os jovens são postos à prova de forma tardia e ineficaz. O mundo da fantasia é cada vez maior e mais abrangente e a maturidade tarda em se evidenciar. Não é portanto de admirar que as relações pessoais sejam cada vez mais instáveis, sujeitas a sobressaltos por futilidades e ninharias, curtas e impessoais. O casamento é feito pela necessidade periódica de sexo e acaba naturalmente por se desmoronar em poucos anos deixando o mundo a braços com crianças orfãs de pais vivos. Tudo é feito com base nas necessidades imediatas porque o amanhã é cada vez mais imprevisível e incerto. Surgem cabalmente ideias de viver a vida. É possível viver a vida dentro de valores morais e de respeito para com o próximo mas já toda a gente se esqueceu disso. Alguém com ideais auto e hetero-benéficos, com um mínimo sentido altruísta e sentido de respeito é banalmente ultrajado na sociedade pelos seus semelhantes.
Já não existe amor que não seja sexo, aliás, nunca houve. É surpreendentemente impossível encontrar uma palavra certeira, que coincida com a nossa teia organizacional e com o funcionamento do desenrolar da vida. Ouvir uma palavra amiga é coisa de filme. Ou então custa-nos uma consulta no psicólogo. Sinto-me só mesmo com tanta gente à minha volta. A vontade de pensar sequer na prossecução do trabalho é assustadora. Só tenho vontade de dormir, dormir e dormir. Dormir e desabafar. Mas é muito difícil encontrar alguém a quem eu faça valer o meu raciocínio, alguém que saiba mesmo o que eu quero dizer, alguém que pense, alguém que não interprete as minhas palavras com duplo sentido ou com sentido errado. Bem posso morrer seco à espera dessa pessoa. Enquanto isso vou deixando o meu eu ir gritando a plenos pulmões que eu não estou bem e que preciso de ajuda. Já que não posso gritar a sério sem que considerem a minha atitude paranóica vou gritando em silêncio, vou deixando do meu espírito brotar as lágrimas de sangue de quem morre com o coração a bater, a falar e a comer por sua própria mão. Reduzo-me subtilmente à minha insignificância porque ela é verdadeira e deve ser respeitada por forma a que ninguém seja mais do que deva ser. Mas claro que esse respeito não existe.

Pobres

Sinceramente já nem tenho vontade para pensar, pensar cansa e puxa pelo físico quando queremos provar algo a nós próprios. É dor que atormenta o Homem, mas será que atormenta a todos de igual modo? Eu penso demasiado, pelo que a dor é maior. Mas pensar não é pensar, é amar, e é amar que dói, porque amamos cada suspiro e nele pensamos.
Dêem-me tempo e serei feliz, porque ninguém é feliz porque vive sob regras e compromissos. Garanto que sem compromissos de qualquer ordem eu seria feliz. Poder sentir o cheiro da negra terra e acordar com as galinhas para desfrutar de um dia maior, isso sim é viver, sentir o véu negro das nuvens que escondem o impetuoso sol e trazem um refrescante frio soturno, sentir o absoluto silêncio livre de matéria poluidora das sirenes das ambulâncias, do ruído ventoso do trânsito e das campainhas de estações ferroviárias, caminhar na areia da praia e sentir a areia moldar-se aos nossos pés como o amante se molda à amada, sentir que o mar tem um desejo eterno de nos arrastar, de nos engolir, de se fundir conosco, sentir por segundos que estamos sós no mundo, beber água directamente do céu e acordar com inesperados mantos brancos, por mais assustador que seja, isso sim é viver, viver todo o ano como viveria eu com a liberdade de uma águia solteira que vagueia no céu explorando visualmente a planície só porque assim quer.
Enfim, eu tenho compromissos por isso posso esquecer todo um sem fim de sonhos e divagações que por certo me fariam viver. O que têm os sonhos de especial? São arrojados e quebram barreiras, limites e regras humanas, mas é por isso que nos fazem viver. Portanto o meu conselho a quem quiser sentir que vive a vida é viver cada dia, cada hora, cada segundo, cada batimento cardíaco em contagem decrescente, não como se fosse morrer, mas da forma mais diferente possível, porque cair no tédio da monotonia é perder o sentido da caminhada, é morrer, produzir adrenalina é viver. Nem sempre produzir adrenalina é simples por causa das barreiras humanas e sociais, no entanto devemos criar adrenalina através dos desafios que nos são propostos diariamente, enfrentando-os sem receio de assumirmos uma forma arrojada de os resolver, eles nunca acabam, quando pensamos que o livro do guinness da vida já está repleto de recordes, eis que nos aparece um novo recorde para superarmos.
É fácil viver a vida em palpites, suposições e pensamentos como nos filmes que retratam casos pontuais que pensamos ser gerais, mas quando abrimos a porta para sair de casa a realidade afronta-se-nos bem mais crua e dura, é aí então, passados dois minutos, que perdemos toda a convicção e força de vontade com que julgávamos ser capazes de mudar o mundo em três dias. Gostamos de passar uns minutos enganados no refúgio do mundo dos sonhos de filmes e telenovelas mas isso é a pura cobardia característica do ser humano, a coragem está em viver a nossa vida, não a vida idealizada dos outros mas a vida que deitamos fora a cada beijo e a cada pulsar esperançado.
A minha cabeça não anda boa, devo andar com uma brain storm, qualquer coisa me remete para o sentido da conexão com o sexo oposto que todos consideram óbvia e inevitável e que apenas eu considero questionável.
O meu universo social alagou-se enormemente nos últimos dois meses e não cessa, pode ser benéfico e pode não o ser, conhecer muita gente dá-nos uma noção muito próxima do real mas essa descoberta choca duramente. É então quando choco com a realidade que a minha alma chora como uma criança, chora porque como ela nunca há-de voltar a ser. Como é desafogada a vida infantil, filosofia de liberdade… Quando somos pequenos achamos que a liberdade vem na vida adulta, mas na adolescência quando nos aproximamos da vida adulta percebemos que estamos a deixar de viver a vida e que a liberdade está a começar a ficar para trás, a vida adulta é complexa, é na adolescência que a nossa liberdade se começa a delapidar, então a realidade actua sobre nós como o sol amadurece os frutos verdes, e todas as decisões que tomamos e as suas consequências se afiguram como uma constante aprendizagem que fará de nós adultos depois de muita experiência adquirida. Mas todo este longo processo de mudança do imaginário que é a infância, para o real, é um caminho duro cheio de perigos à espreita dos nossos passos em falso. É então quando chegamos a adultos que queremos regressar eternamente para a infância, delegar todas as nossas responsabilidades ao raio que as parta, choramos de exaustão quando algo corre mal e baralha toda a teia organizacional que tecemos, queremos voltar a viver sonhos de infância. Para isso alguém inventou os filmes, viagens de minutos pelo imaginário inalcançável.
Põe-se então uma questão, se não é bom ser adulto, de que modo podemos ser felizes? Ser feliz é viver a vida, não da maneira que pensamos que estamos a fazer, na sociedade comodista e organizada, complexamente complexada, a trabalhar 14 horas por dia para que os ingratos dos filhos não passem fome, mas na dita vida sem compromissos com que todos sonhamos mas na qual ninguém aposta com o medo da máquina social. Os hippies estiveram próximos da felicidade verdadeira, mas o que lhes aconteceu? Foram considerados aberrações pelo império social com todas as suas regras. Hoje são venerados por muitos jovens e adultos que percebem que eles não eram assim tão loucos como pareciam, estavam até demasiado perto da verdade. Essa felicidade é simplesmente inalcançável, nascemos já com obrigações e responsabilidades.
Nem sempre o destino se afigura propriamente justo, mas são regras predestinadas e inalteráveis, não me considero propriamente injustiçado por ter nascido sem avô paterno, por o meu padrinho ter morrido tão jovem, ou por a minha avó estar no estado em que está, eu sei que há gente com problemas que não se resolvem numa vida, por isso não me queixo. Até porque no mundo existem muitos e graves problemas. Uns são simples como as guerras, outros têm nomes próprios como Bush, e outros verificam-se olhando para o desenvolvimento e a saúde em África. Não quero parecer nenhuma miss universo mas estas coisas são bem mais reais do que parecem. E depois chegam os sub problemas, as sociedades capitalistas, as gerações de consumo, as sociedades elitistas, as gerações de massas, um sem fim de vírus que povoam a mente humana através dos meios de influência… Pobres. É assim que defino os coitados citadinos que nunca tiveram o prazer de sentir verdadeiramente o prazer que a pura terra nos dá. Montes de gente nunca puderam apreciar a beleza de um campo bem definido de forma natural. Desde cedo aprendi com os meus pais e professores que é na cidade que se concentra a actividade económica e que bons empregos por lá se procuram, mas nunca precisei que nenhum tutor me incutisse o facto de o campo ser o melhor sítio para se viver, porque em nenhuma cidade se pode sentir a lua a chegar trazendo consigo o silêncio campónio que permite escutar o mar revolto a quilómetros de distância, ou os mochos e corujas nocturnos saídos das torres de capelas em busca do seu sustento. Não trocava o prazer de acordar com o chilrear das andorinhas à chegada da Primavera, por nenhum som de trânsito a circular. Nunca na vida seria capaz de trocar a saúde de caminhar pelos baldios de malmequeres e luzernas a brotar com as primeiras chuvas de Abril e Maio, pela simplória calçada citadina. Nem me passa pela cabeça trocar a vista de rebanhos de cabras que obtenho ao espreitar da janela, pela vista de toiros mecânicos com rodas, completamente frenéticos ao espreitar das varandas dos lúgubres apartamentos, fontes de solidão e indiferença alheia. Longe de mim trocar o aquecimento da lareira que nos faz gastar os cepos reservados para a chegada dos mantos brancos com um serão familiar e acolhedor, pelo aquecimento artificial das novas tecnologias, com um pobre serão a ver televisão. Só completamente privado de sanidade mental trocaria um relaxante passeio à beira-mar com a sensação de toda a imponência da força do mar ali presente, por uma tarde de Domingo gasta no repuxo do jardim artificial mais próximo. Há coisas que não se podem comprar até nós, porque as coisas que têm o verdadeiro valor devem ser procuradas no lugar onde pertencem, porque nada na cidade consegue imitar a transparência, a emotividade, o deslumbramento, a estupefacção de uma caminhada pela serra, o contacto seco e directo com a nossa origem e o nosso destino, a terra, a cortante visão acima das nuvens que nos faz sentir minimizados com tão deslumbrante beleza, o duche gelado que ferve os sentidos de uma cascata natural perdida no meio da serra. É por isso que os chamo de pobres, nunca irão sentir os prazeres mais verdadeiros que só a verdadeira natureza nos dá, e enquanto isso vão sobrevivendo com os prazeres virtuais e artificiais que lhes chegam sem esforço. E o que será de gerações futuras que nem poderão saber o que é comer bacalhau, por exemplo? É mesmo só um exemplo banal de uns milhares de exemplos que se vão desenvolvendo pelo século fora, até porque já é cada vez mais comum encontrar crianças que desenham um frango assado quando lhes é pedida uma galinha, ou que crescem com a noção de que o pão nasce nas prateleiras de supermercado. Consequência natural da evolução ou não, isso não sei, só sei que eles são e morrerão uns pobres, de carteira recheada e casa apetrechada mas de espírito pobre e sem noção das raízes da sua existência, pobres e coitados…