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terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

=)

Por entre risos descobrimos a verdade, começamos com sorrisos mútuos, passamos por olhares cúmplices e acabamos por tomar o sabor do beijo. A pessoa que está do outro lado já não é mais um simples conhecido, em dias apura-se a confiança, a sinceridade, trocam-se carinhos e sentimentos, nada mais é como antes.
Não se encontra alguém especial fazendo esboços e procurando a pessoa perfeita, por vezes o simples acaso (ou obra do destino) faz chegar a outra metade da laranja. Não são duas metades da mesma laranja nem encaixam milimetricamente, mas têm em si um segredo especial, sabem aceitar os pequenos defeitos, as pequenas diferenças, os pequenos contras, os pequenos "se", os pequenos "mas", tudo aquilo que faz deles tão diferente e tão iguais.
A percepção do significado da pessoa especial chega leve, como um sussurro do vento que nos diz algo imperceptível e que o nosso coração descodifica. Decidimos apostar nas sugestões do vento e seguimos caminho em busca do coração da outra pessoa. Nem sempre a viagem vale o esforço, muitas vezes temos quase a certeza que corremos em direção ao fogo, ao gelo, às lágrimas de frustração e indignação por os nossos sentimentos não serem correspondidos. Há gente que vive anos e anos nessa busca infrutífera, mas quando a verdadeira recompensa chega o nosso corção sobe ao céu de alegria, do sentimento mais belo e reconfortante. Como é bom saber-se e sentir-se amado... =)

Suposições =s

É fácil dizermos que somos pessoas decididas, fazermos parecer que seguimos objectivos claramente traçados, no entanto essa imagem não corresponde a qualquer realidade existente. Eu próprio sou confuso e a minha cabeça anda em turbilhão muitas vezes por causa da bifurcação de rumos com que o meu coração se depara pela frente frequentemente.
Vivemos num mundo de aparências, aparentamos que tudo corre bem, e para ser alguém na sociedade às vezes aparentamos ter nascido em berço de ouro quando na verdade não vivemos se não num berço de lata. Há coisas de que não nos orgulhamos mas os problemas são para ser debatidos, existem os amigos, e caso não haja solução sempre resta o consolo de um ombro amigo ou um abraço apertado que em tudo ajuda... Ninguém é perfeito, nenhuma família é perfeita, todos temos problemas, nada nos resta de mais eficaz que aprender a viver com esses problemas, a vida é curta e o stress e a preocupação matam, não queiramos morrer, saibamos pedir e receber um sorriso, uma palavra, uma gargalhada, don't worry, be happy... ;-)

A outra página

Uma lufada de ar fresco, de madrugada vagueio pela rua, hoje sozinho, daqui a uma semana belamente acompanhado.
Uma semana bastou para que a página se virasse e eu me visse noutro mundo, um mundo onde não queremos que caiba o ódio, onde ele não cabe mesmo, um mundo cheio de coisas bonitas. Antes fosse o mundo real, tudo seria melhor e bem menos complicado.
Um dia de cada vez, um passo de cada vez, uma golfada de ar de cada vez, a vida é para ser aproveitada assim como as dádivas que ela nos trás, e o amanhã... o amanhã? O amanhã o futuro nos dirá como é, mas viver é sem dúvida o melhor remédio...

Estou aqui...

Não vou mentir e dizer que não espero por ti, não sou capaz disso, vivo e anseio pela tua chegada. Não vou correr atrás de ti, vou esperar que tu venhas quando tiveres que vir, não tenho pressa. Depois de tudo o que passei consegui crescer, hoje só quero chegar ao coração de quem quiser chegar ao meu, ele está aberto mas não pressiona ninguém. Ja não sou quem fui e orgulho-me disso. A vida nem sempre me traz o que dela espero mas não reclamo, deixo correr o destino pelas veias do tempo. Quero viver calmo e sereno ao sabor da vida, ao sabor do que está para chegar e não na ansiedadade e inquietude da espera pelo que tanto desejamos. Hoje ja não corro pelo beijo dela, passeio à beira-mar e espero que o feliz acaso a faça vir ao meu econtro, os lábios dela de encontro aos meus. Se assim não fizer voltarei a ser quem nao sou, um eterno enamorado por sombras em noites de luar, sombras ténues e fugitivas, sombras que a vontade não traz, leva. A outra página que leio agora em mim é uma página de espera tranquila, espera de sombras dos belos dias de sol radioso, sombras definidas, fortes e verdadeiras. É tempo de ser e de deixar correr, tempo de impedir que eles façam um deserto onde dizem fazer a paz, tempo de reconstruir as nossas bases e parar com o crescimento despreocupado que mais cedo ou mais tarde nos faz cair...

Tu por todos, todos por ti!

Há alturas na vida em que a nossa teia organizacional começa a crescer e os planos começam a ganhar forma. Mesmo cada vez com menos tempo, com a aproximação do casamento e consigo todo o trabalho, vocês tiveram ainda coragem para abraçar o desporto e dar rumo a umas meninas no futsal.
Tudo decorria dentro da normalidade com os naturais altos e baixos na preparação daquele momento único. Não só os anfitriões como também quem vive à sua volta sonhavam com a chegada desse dia. Mas surgiu do nada um tiro que furou com todos os planos.
Foste ao hospital por um problema que não sugeria grandes preocupações mas eis que o teu anjo-da-guarda se cruza no teu caminho, o teu estranho estado levantou-lhe suspeitas e foste internada de urgência. Era óbvio que o problema era no mínimo grave, e depois de muitos telefonemas para o hospital a resposta mais esclarecedora que obtivemos foi: “Isto não são assuntos que se tratem por telefone…”.
Não foi propriamente uma declaração que nos levantasse o espírito. Mas o pior veio no dia seguinte quando a mãe chegou a casa de te visitar com um semblante que falava por si e as nossas piores suspeitas se confirmaram, leucemia.
Ninguém se atreveria a censurar a tua pessoa se tu te deixasses abater. Mas isso simplesmente não aconteceu, com toda a acalmia do mundo tu soubeste dizer ao teu futuro marido o que se passava e que o casamento teria que ser adiado.
Daí para a frente foi um espanto a forma como sempre soubeste lidar com o que te afectava quase como se não se passasse nada. Arriscaria mesmo dizer que quem olhasse para ti nunca diria que estavas doente. Sempre soubeste acalmar as preocupações de quem se inquietava por ti de uma forma quase natural e o teu sorriso sempre nos soube dizer que estavas bem de espírito. Numa altura em que tu própria podias necessitar de apoio deste por ti a apoiar outras pessoas com o mesmo problema. Nunca tiveste esperanças, sempre certezas. Não é um facto que se diga cientificamente comprovado mas qualquer médico sabe que um espírito positivo e uma moral alta são meia cura.
No meio disto tudo, com a tua força que tudo superará deste-nos uma grande lição de vida. Aprendeste e ensinaste-nos que as coisas boas da vida jamais devem ser adiadas pelas futilidades do nosso quotidiano mas devem ser aproveitadas, um acontecimento destes faz sempre pensar a toda a gente e faz-nos dar outro valor à vida.

Amores de Verão

“Amores de Verão enterram-se na areia” A frase toma sentido quando no Verão conhecemos novas pessoas em momentos por vezes fortuitos, pessoas que pela diminuta quantidade de roupa nos parecem mais atraentes. Findo o Verão sabemos ter que esquecer essas pessoas, acabam-se as férias, voltamos para casa e esquecemos o que se passou. Com a devida razão que lhe é atribuída devia ser fácil cumprir com o ditado, e antes fosse!
Acontece que no Verão também surgem daquelas pessoas que nos deixam siderados como algo sério. Também com meros acasos passamos a conhecer alguém deslumbrante, interior e exteriormente, passamos alguns dias divinais e depois acontece a inevitável partida de uma das partes. Até aqui tudo normal, passado um ano não há regresso mas as saudades não arredam pé, a chama mantém-se viva como na partida.
Passam 2, 3, 4 e só ao fim de 5 anos acontece o regresso, agora já com alguém a seu lado, sem tempo para matar saudades, nada mais além que breves trocas de palavras. O destino trai as nossas ambições no seu percurso regular, umas vezes o bom, outras vezes o mau da fita, ele é assim mesmo e nada pode ser alterado, “maktub”.
A nova despedida, de início simples, torna-se pesada com o aparecimento do silêncio constrangedor, apesar de a parte que vai partir novamente se aguentar bem, já com vida traçada e rumos minimamente definidos em torno não da vivência mas da sobrevivência. A parte que fica inunda os olhos de um brilho pesaroso de quem sabe um reencontro para muitos anos depois ou talvez para nunca mais. “Boa viagem” é tudo o que sai.
Os 5 anos de espera não foram calmos, nada nunca fez apagar a chama que se acendeu nuns meros 3 dias. A paixão está presente, o resto do sentimento confunde-se entre o amor e a obsessão. Momentos duros os de recordar a beleza escultural e completa do corpo e a simplicidade amorosa da alma. Pode não saber falar inglês, pode não gostar da aldeia, pode até nunca ter ouvido falar nos U2 mas a sua simplicidade apaixona.
Foram 5 anos de ideias arrojadas e obsessivas, ideias de largar tudo para estar perto dela, ideias às centenas das quais não escaparam para a realidade mais que umas simples mensagens de amor ou umas cartas sinceras, manifestações que nunca levaram mais que uma bela resposta de amizade, uma amizade que tortura e que não podia existir. Ideias que nunca foram postas em prática, ou pela cobardia ou (por outro ponto de vista) pela capacidade de perceber que qualquer desses gestos nunca levaria o devido valor da outra parte, ideias em vão.
5 anos depois, após o reencontro e após a despedida, surge o arrependimento pelo desejo de a voltar a ver. Uma chama que se julgava um tanto ou quanto adormecida após anos de rescaldo, voltou a avivar-se, a tomar fulgor e a ferir uma ferida nunca sarada. Vale a nova vida da parte que fica, uma vida recentemente recheada de gente nova e de tal modo ocupada (ou com o trabalho ou com o estudo) que deixa pouco tempo para juntar pensamentos ao monte dos desperdiçados.
Salta-se da imaginação para a realidade e percebe-se que só com muita sorte à mistura é que um amor impossível deixa de o ser. A ele não resta nada mais que disfarçar com alguém valioso a lacuna que nunca será completamente preenchida.
Houve em tempos paixonetas por raparigas bonitas mas isto em nada se assemelha a isso, hoje ele cresceu, sabe distinguir um fraquinho de um amor e é capaz de dizer que aparte dela nunca amou ninguém. São palavras sinceras gastas em vão com pessoas que não lhe vêem o devido significado à semelhança do artista que fica cabisbaixo ao notar a errada percepção do significado da sua obra de arte. Quem escuta estas palavras incita a partir para outra, outra mesmo que seja uma amiga. Ele sabe, por experiência própria, que as duas coisas não se devem misturar e fica perturbado com a ideia, tanto mais que ele sabe a necessidade de ter alguém a seu lado mas prefere esperar pela pessoa mais adequada para ocupar o lugar dela.
Há pensamentos que transcendem a superficialidade do desejo sexual imediato mas ninguém quer olhar para isso senão quando assistem a um filme. Ele tem medo de não ser compreendido e de não ser bem interpretado, quando encontra alguém que quase lhe lê a mente, alguém de um profundidade impressionante vastamente ao seu nível, essa pessoa esvai-se-lhe por entre os dedos como areia fina e seca por entre desculpas de indisponibilidade e anti-depressivos. Ele sabia não advir daí a melhor satisfação das suas necessidades do sexo oposto, mas outras aventuras em que o desejo sexual pode ser completado revelam-se insossas, sem personalidade e sem profundidade de intelecto. Duas partes essenciais mas separadas em pessoas diferentes.
Acontece demasiado frequentemente, juntam-se duas pessoas diferentes, que não se completam, têm sexo duas a três vezes por semana, jantam com a família dela ao sábado à noite, e vão ao cinema, almoçam com a família dele ao domingo e repetem este ritual até terem casa própria, altura em começam a tratar da própria vida em casal. Vão para a cama e viram-se um para cada lado. No dia seguinte ela leva os filhos à escola, ele vai trabalhar. À noite trocam meia dúzia de acusações aos berros e terminam a refeição em silêncio dormindo novamente como que em camas separadas. 90% das relações seguem estes trâmites, uma vida sem sabor e sem sentido. Ele não quer ser assim e sabe que vai sofrer por causa disso, mas não se deixa abater, mesmo sabendo que não a volta a ver ou que nunca a terá seu lado da maneira que deseja ele espera encontrar alguém que o complete para além do corpo.
Deverá aproveitar a vida só porque é jovem e viver aventuras sem futuro? Ele gostava de saber mas não tem quem lhe responda e sabe que esta pergunta é só mais uma sem resposta. Por ora preocupa-se com o presente e com a forma de ultrapassar os obstáculos do dia-a-dia, ter pensamentos verdadeiros e profundos num mundo cru e insensível é coisa a que só se pode permitir sozinho ao adormecer, quando o tempo não tem valor e quando pode estar sozinho e à vontade com a única pessoa que realmente o compreende – ele próprio. Agora vive um dia de cada vez, porque no início da sua fase adulta sabe que dar passos grandes exige muita preparação, coragem e consistência no saber o que está a fazer, prefere passos pequenos que sabe não resultarem em mais do que quedas pequenas.

Sadness

É triste quando estamos sós, mas mais triste é quando nos sentimos sós quando estamos rodeados de gente. Uma semana de férias em que vi e revi muita gente e sinto-me só e aborrecido.
Eu gosto muito de pensar e faço-o. Sou observador nato e procuro uma razão de ser para o mínimo pormenor, que não seja o acaso. Nessa minuciosa observação há muitos e longos momentos de profundo pensamento em que me apercebo de realidades tão óbvias ou simplesmente de factos que se realçam pela natureza dos acontecimentos à volta dos quais eu me centro. Desta feita vi em mim não a falta de uma mulher em sentido corporal mas aquilo de que mais sensatamente se pode chamar amiga. É deveras complicado conseguir achar alguém cujo fundamento intelectual se assemelhe ao meu, e nas raras vezes que isso acontece eu consigo estragar tudo pela atracção física que acaba por se gerar. Não uma atracção baseada na beleza física mas sobretudo baseada na necessidade mútua de cumplicidade do sexo oposto. Não consigo mais do que escassas horas de diálogo coerente de igual para igual, passado este curto prazo ocorre a cumplicidade e posteriormente o afastamento. O afastamento é simplesmente prova do receio de ambas as partes da possibilidade dos débeis sentimentos poderem tornar-se mais fortes e do receio de que a falta de maturidade dê asas a uma relação sem estrutura.
Fala-se num desenvolvimento precoce das novas crianças que de todo não foge à realidade. No entanto a falta de privação da comodidade do nível de vida actual e o comodismo tremendo que afectam a sociedade, levam à evidência de um infantil atraso no desenvolvimento da maturidade. As crianças iniciam cedo a aventura do conhecimento mas começam cada vez mais tarde o desenvolvimento próprio de maturidade e de capacidade de decisão própria. Este problema assemelha-se a uma comum ideologia de que os medos só são vencidos quando enfrentados. A maturidade é a vitória sobre os medos. Os actuais jovens, por virtude da evolução, do excesso de proteccionismo dos pais e da significativa melhoria do nível de vida, demoram cada vez mais a tomar vida própria. Os jovens são postos à prova de forma tardia e ineficaz. O mundo da fantasia é cada vez maior e mais abrangente e a maturidade tarda em se evidenciar. Não é portanto de admirar que as relações pessoais sejam cada vez mais instáveis, sujeitas a sobressaltos por futilidades e ninharias, curtas e impessoais. O casamento é feito pela necessidade periódica de sexo e acaba naturalmente por se desmoronar em poucos anos deixando o mundo a braços com crianças orfãs de pais vivos. Tudo é feito com base nas necessidades imediatas porque o amanhã é cada vez mais imprevisível e incerto. Surgem cabalmente ideias de viver a vida. É possível viver a vida dentro de valores morais e de respeito para com o próximo mas já toda a gente se esqueceu disso. Alguém com ideais auto e hetero-benéficos, com um mínimo sentido altruísta e sentido de respeito é banalmente ultrajado na sociedade pelos seus semelhantes.
Já não existe amor que não seja sexo, aliás, nunca houve. É surpreendentemente impossível encontrar uma palavra certeira, que coincida com a nossa teia organizacional e com o funcionamento do desenrolar da vida. Ouvir uma palavra amiga é coisa de filme. Ou então custa-nos uma consulta no psicólogo. Sinto-me só mesmo com tanta gente à minha volta. A vontade de pensar sequer na prossecução do trabalho é assustadora. Só tenho vontade de dormir, dormir e dormir. Dormir e desabafar. Mas é muito difícil encontrar alguém a quem eu faça valer o meu raciocínio, alguém que saiba mesmo o que eu quero dizer, alguém que pense, alguém que não interprete as minhas palavras com duplo sentido ou com sentido errado. Bem posso morrer seco à espera dessa pessoa. Enquanto isso vou deixando o meu eu ir gritando a plenos pulmões que eu não estou bem e que preciso de ajuda. Já que não posso gritar a sério sem que considerem a minha atitude paranóica vou gritando em silêncio, vou deixando do meu espírito brotar as lágrimas de sangue de quem morre com o coração a bater, a falar e a comer por sua própria mão. Reduzo-me subtilmente à minha insignificância porque ela é verdadeira e deve ser respeitada por forma a que ninguém seja mais do que deva ser. Mas claro que esse respeito não existe.

Pobres

Sinceramente já nem tenho vontade para pensar, pensar cansa e puxa pelo físico quando queremos provar algo a nós próprios. É dor que atormenta o Homem, mas será que atormenta a todos de igual modo? Eu penso demasiado, pelo que a dor é maior. Mas pensar não é pensar, é amar, e é amar que dói, porque amamos cada suspiro e nele pensamos.
Dêem-me tempo e serei feliz, porque ninguém é feliz porque vive sob regras e compromissos. Garanto que sem compromissos de qualquer ordem eu seria feliz. Poder sentir o cheiro da negra terra e acordar com as galinhas para desfrutar de um dia maior, isso sim é viver, sentir o véu negro das nuvens que escondem o impetuoso sol e trazem um refrescante frio soturno, sentir o absoluto silêncio livre de matéria poluidora das sirenes das ambulâncias, do ruído ventoso do trânsito e das campainhas de estações ferroviárias, caminhar na areia da praia e sentir a areia moldar-se aos nossos pés como o amante se molda à amada, sentir que o mar tem um desejo eterno de nos arrastar, de nos engolir, de se fundir conosco, sentir por segundos que estamos sós no mundo, beber água directamente do céu e acordar com inesperados mantos brancos, por mais assustador que seja, isso sim é viver, viver todo o ano como viveria eu com a liberdade de uma águia solteira que vagueia no céu explorando visualmente a planície só porque assim quer.
Enfim, eu tenho compromissos por isso posso esquecer todo um sem fim de sonhos e divagações que por certo me fariam viver. O que têm os sonhos de especial? São arrojados e quebram barreiras, limites e regras humanas, mas é por isso que nos fazem viver. Portanto o meu conselho a quem quiser sentir que vive a vida é viver cada dia, cada hora, cada segundo, cada batimento cardíaco em contagem decrescente, não como se fosse morrer, mas da forma mais diferente possível, porque cair no tédio da monotonia é perder o sentido da caminhada, é morrer, produzir adrenalina é viver. Nem sempre produzir adrenalina é simples por causa das barreiras humanas e sociais, no entanto devemos criar adrenalina através dos desafios que nos são propostos diariamente, enfrentando-os sem receio de assumirmos uma forma arrojada de os resolver, eles nunca acabam, quando pensamos que o livro do guinness da vida já está repleto de recordes, eis que nos aparece um novo recorde para superarmos.
É fácil viver a vida em palpites, suposições e pensamentos como nos filmes que retratam casos pontuais que pensamos ser gerais, mas quando abrimos a porta para sair de casa a realidade afronta-se-nos bem mais crua e dura, é aí então, passados dois minutos, que perdemos toda a convicção e força de vontade com que julgávamos ser capazes de mudar o mundo em três dias. Gostamos de passar uns minutos enganados no refúgio do mundo dos sonhos de filmes e telenovelas mas isso é a pura cobardia característica do ser humano, a coragem está em viver a nossa vida, não a vida idealizada dos outros mas a vida que deitamos fora a cada beijo e a cada pulsar esperançado.
A minha cabeça não anda boa, devo andar com uma brain storm, qualquer coisa me remete para o sentido da conexão com o sexo oposto que todos consideram óbvia e inevitável e que apenas eu considero questionável.
O meu universo social alagou-se enormemente nos últimos dois meses e não cessa, pode ser benéfico e pode não o ser, conhecer muita gente dá-nos uma noção muito próxima do real mas essa descoberta choca duramente. É então quando choco com a realidade que a minha alma chora como uma criança, chora porque como ela nunca há-de voltar a ser. Como é desafogada a vida infantil, filosofia de liberdade… Quando somos pequenos achamos que a liberdade vem na vida adulta, mas na adolescência quando nos aproximamos da vida adulta percebemos que estamos a deixar de viver a vida e que a liberdade está a começar a ficar para trás, a vida adulta é complexa, é na adolescência que a nossa liberdade se começa a delapidar, então a realidade actua sobre nós como o sol amadurece os frutos verdes, e todas as decisões que tomamos e as suas consequências se afiguram como uma constante aprendizagem que fará de nós adultos depois de muita experiência adquirida. Mas todo este longo processo de mudança do imaginário que é a infância, para o real, é um caminho duro cheio de perigos à espreita dos nossos passos em falso. É então quando chegamos a adultos que queremos regressar eternamente para a infância, delegar todas as nossas responsabilidades ao raio que as parta, choramos de exaustão quando algo corre mal e baralha toda a teia organizacional que tecemos, queremos voltar a viver sonhos de infância. Para isso alguém inventou os filmes, viagens de minutos pelo imaginário inalcançável.
Põe-se então uma questão, se não é bom ser adulto, de que modo podemos ser felizes? Ser feliz é viver a vida, não da maneira que pensamos que estamos a fazer, na sociedade comodista e organizada, complexamente complexada, a trabalhar 14 horas por dia para que os ingratos dos filhos não passem fome, mas na dita vida sem compromissos com que todos sonhamos mas na qual ninguém aposta com o medo da máquina social. Os hippies estiveram próximos da felicidade verdadeira, mas o que lhes aconteceu? Foram considerados aberrações pelo império social com todas as suas regras. Hoje são venerados por muitos jovens e adultos que percebem que eles não eram assim tão loucos como pareciam, estavam até demasiado perto da verdade. Essa felicidade é simplesmente inalcançável, nascemos já com obrigações e responsabilidades.
Nem sempre o destino se afigura propriamente justo, mas são regras predestinadas e inalteráveis, não me considero propriamente injustiçado por ter nascido sem avô paterno, por o meu padrinho ter morrido tão jovem, ou por a minha avó estar no estado em que está, eu sei que há gente com problemas que não se resolvem numa vida, por isso não me queixo. Até porque no mundo existem muitos e graves problemas. Uns são simples como as guerras, outros têm nomes próprios como Bush, e outros verificam-se olhando para o desenvolvimento e a saúde em África. Não quero parecer nenhuma miss universo mas estas coisas são bem mais reais do que parecem. E depois chegam os sub problemas, as sociedades capitalistas, as gerações de consumo, as sociedades elitistas, as gerações de massas, um sem fim de vírus que povoam a mente humana através dos meios de influência… Pobres. É assim que defino os coitados citadinos que nunca tiveram o prazer de sentir verdadeiramente o prazer que a pura terra nos dá. Montes de gente nunca puderam apreciar a beleza de um campo bem definido de forma natural. Desde cedo aprendi com os meus pais e professores que é na cidade que se concentra a actividade económica e que bons empregos por lá se procuram, mas nunca precisei que nenhum tutor me incutisse o facto de o campo ser o melhor sítio para se viver, porque em nenhuma cidade se pode sentir a lua a chegar trazendo consigo o silêncio campónio que permite escutar o mar revolto a quilómetros de distância, ou os mochos e corujas nocturnos saídos das torres de capelas em busca do seu sustento. Não trocava o prazer de acordar com o chilrear das andorinhas à chegada da Primavera, por nenhum som de trânsito a circular. Nunca na vida seria capaz de trocar a saúde de caminhar pelos baldios de malmequeres e luzernas a brotar com as primeiras chuvas de Abril e Maio, pela simplória calçada citadina. Nem me passa pela cabeça trocar a vista de rebanhos de cabras que obtenho ao espreitar da janela, pela vista de toiros mecânicos com rodas, completamente frenéticos ao espreitar das varandas dos lúgubres apartamentos, fontes de solidão e indiferença alheia. Longe de mim trocar o aquecimento da lareira que nos faz gastar os cepos reservados para a chegada dos mantos brancos com um serão familiar e acolhedor, pelo aquecimento artificial das novas tecnologias, com um pobre serão a ver televisão. Só completamente privado de sanidade mental trocaria um relaxante passeio à beira-mar com a sensação de toda a imponência da força do mar ali presente, por uma tarde de Domingo gasta no repuxo do jardim artificial mais próximo. Há coisas que não se podem comprar até nós, porque as coisas que têm o verdadeiro valor devem ser procuradas no lugar onde pertencem, porque nada na cidade consegue imitar a transparência, a emotividade, o deslumbramento, a estupefacção de uma caminhada pela serra, o contacto seco e directo com a nossa origem e o nosso destino, a terra, a cortante visão acima das nuvens que nos faz sentir minimizados com tão deslumbrante beleza, o duche gelado que ferve os sentidos de uma cascata natural perdida no meio da serra. É por isso que os chamo de pobres, nunca irão sentir os prazeres mais verdadeiros que só a verdadeira natureza nos dá, e enquanto isso vão sobrevivendo com os prazeres virtuais e artificiais que lhes chegam sem esforço. E o que será de gerações futuras que nem poderão saber o que é comer bacalhau, por exemplo? É mesmo só um exemplo banal de uns milhares de exemplos que se vão desenvolvendo pelo século fora, até porque já é cada vez mais comum encontrar crianças que desenham um frango assado quando lhes é pedida uma galinha, ou que crescem com a noção de que o pão nasce nas prateleiras de supermercado. Consequência natural da evolução ou não, isso não sei, só sei que eles são e morrerão uns pobres, de carteira recheada e casa apetrechada mas de espírito pobre e sem noção das raízes da sua existência, pobres e coitados…