tvAAC

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Ai a mulher, a mulher... é fogo e não sabe o que faz! :p

Uma música bonita:
Ezspecial - Alguém Como Tu


"Eu olhei nao percebi a tua timidez
mas gostei do que vi
quero te outra vez

uh uh uh alguem como tu
uh uh uh alguem como tu
uh uh uh alguem como tu uh uh... uh uh

a mulher e fogo e nao sabe o que faz
tira me o sono e nao me deixa em paz
nao demora a esquecer e a mudar... o que tem
nao quer saber de nada nem de ninguem

eu joguei e perdi tudo de uma vez
ja amei e vivi mais do que uma vez
sabes de mais sobre mim
queres tudo o que ves

uh uh uh alguem como tu
uh uh uh alguem como tu
uh uh uh alguem como tu uh uh uh uh

a mulher e fogo e nao sabe o que faz
tira me o sono e nao me deixa em paz
nao demora a esquecer e a mudar...o que tem
nao quer saber de nada nem de ninguem

sou passageiro na tua viagem para onde vais?
e tenho o tempo na bagagem...quando e que sais?
saio no encalço do meu destino e nos teus sinais
tenho a sensaçao de querer mais

a mulher e fogo e nao sabe o que faz
tira me o sono e nao me deixa em paz
nao demora a esquecer e a mudar... o que tem
nao quer saber de nada nem de ninguem"

domingo, 11 de janeiro de 2009

O valor das palavras


Passeava uma vez à beira-mar sozinho, sozinho e acompanhado por aquele ribombar das ondas sem fim de que tanto tenho saudades. Era inverno, eu caminhava descalço e a areia não estava nada quente, pelo contrário, os meus sentidos manifestavam-se dizendo que eu não estava a fazer o correcto para o meu corpo, para mim. Mas apesar de já ter sido assim, hoje não sou mais de seguir aquilo que os outros dizem e julgam, já não vivo para ouvir os julgamentos de quem se julga alguém para me julgar por ter julgado alguém.
Seguindo esse trilho de louco, de quem não escutava os seus sentidos, caminhei sempre para diante, seguindo a costa sem fim. Havia começado a chover mas eu segui o meu objectivo imperturbável com um sorriso de insanidade. Pelo caminho respondia aos insultos do mar, o mesmo mar que anos atrás me tinha tentado levar nas suas garras para o silêncio da morte. Mas eu escapei e hoje perdoo-te, porque tu és selvagem como um animal e é de tua natureza fazeres isso. Nessa doce troca de insultos sumptuosos e bem audíveis larguei palavras de raiva e disse aquilo que tinha para dizer. Deitei-as ao mar e esperei que tais feias palavras gerassem ondas mais fortes e com mais raiva. A rebentação aumentou, a chuva também. Gritei mais alto e bradei aos céus que não estava bem, gritei a plenos pulmões e libertei toda a fúria dentro de mim. Depois acalmei-me e sentei-me no areal a observar aquele complexo amor/ódio que tenho para com o mar tal como com as mulheres. Hoje a minha mulher és tu, não gastarei mais do meu latim com humanos que vivem sob influência do estado da lua. Oh, santa ironia, tu também vives coordenado pelos estados da lua… Mas tu segues um calendário, uma coordenação, elas não, elas seguem o calendário da surpresa.
Bradei palavras porque as palavras têm significado, têm valor e dentro de mim só fazem estragos.
Estava já a tremer e voltei para casa. “O carro avariou-me pelo caminho” justifiquei-me eu para o facto de estar encharcado. Utilizei palavras para comunicar, para enganar, para dizer verdades, para constatar factos, as palavras têm valor.
Era domingo, fiz as malas e segui para Coimbra. Pelo caminho parei naquela pequena e acolhedora terra, gosto de visitar o castelo. Que saudades tenho daquele pequeno castelo… Raro é por lá passar e não parar. Aquele pequeno castelo é bonito, tem significado e acolhe-me sorridente e solarengo quando preciso de um espaço. Hoje porém é já de noite há muitas horas e em alguns minutos entro pela manhã fora. O castelo está fechado, mas está lá. Está fechado mas a chuva e o vento correm à sua volta para me ouvir. Está escuro mas a luz da lua acompanha-me por entre as nuvens. A solidão só me dá espaço. Grito então as palavras que me corroem a alma e solto mais da minha fúria cá para fora, O vento tratará de levar este grito de agonia para onde ele deve ir, a lugar nenhum. Porque eu também sou humano e ninguém pode saber, ninguém pode perceber que eu sou fraco e que tenho os meus maus momentos.
Liberta mais um pouco de raiva e sigo rumo ao meu destino.
Conduzir é uma bênção para mim, e o ar fresco que me entra pela janela faz-me sentir bem até mais não. Entrando numa estrada com melhores condições acelero. Mas hoje não estou em paz e acelero mais e mais. Com um carro mais velho que eu e uma velocidade estupidamente perigosa para as condições continuo a acelerar. Hoje não estou em paz e preciso libertar a força maligna que me faz efervescer os pensamentos em turbulentos desejos vingativos, quer seja por mim próprio, quer seja através daquilo que comando.
Coimbra acolhe-me silenciosa, são horas de estar a dormir e as ruas estão desertas. Entro no meu quarto e largo as pesadas malas carregadas de memórias e melancolia. Abro a porta da cozinha que dá para o exterior e ouço o fantástico e raro silêncio que por aqui se faz ouvir a estas horas. As nuvens já fugiram e timidamente algumas estrelas começam a abrir caminho por entre a escuridão azul do céu. De repente uma forte corrente de ar, um vento maligno entra pela cozinha dentro, arranca a última folha daquela planta e leva-a. Levou consigo o último resto de vida daquela planta de que eu tinha prometido cuidar. Senti-me mal, não fui capaz de cumprir a minha missão e a raiva invadiu-me mais uma vez. Bradei, gritei, berrei então a plenos pulmões porque a raiva tinha tomado conta de mim mais uma vez. Gritei como um louco e calei-me como um mudo. Voltei para dentro de casa e apaguei as luzes. Cansado atiro-me à cama e deixo-me adormecer levado pelo cansaço.
Acordo cansado e com a boca seca. Levanto-me e encho o copo com água. Enquanto degusto aquele liquido vital, sem sabor e infinitamente saboroso, espreito pela janela. O puro branco da neve que tudo cobre deixa esta paisagem numa acalmia tremenda como o meu coração precisa. As imagens e as palavras têm muito valor, e os sonhos também, mesmo que sejam sonhos abstractos como os meus. Na verdade estou noutro sítio, noutro país, noutra cultura e noutra vida. Talvez eu devesse tentar não me deixar dominar pela raiva. Talvez eu devesse deixar de lado tudo o que de mal me fizeram, tudo o que me fez sofrer, porque o que lá vai lá vai e não tem mais conserto. As cicatrizes servem apenas para nos lembrarmos que agora somos diferentes, não para gerar raiva. Talvez eu devesse aproveitar mais os momentos e não fazer deles oportunidades para me vingar dos maus sentimentos. Talvez eu deva ter mais cuidado com a minha vida e não ser tão negligente, não deixar a vida passar sem a aproveitar para que um sopro de vento a leve sem sentido. Talvez eu deva fazer um esforço para mudar tudo isso.
Abro a torneira e ponho a banheira a encher. Enquanto isso ligo ao meu amor, acordo-a e digo:
-Bom dia! Obrigado por existires…
E do outro lado ouço uma resposta sincera:
-Obrigado, também te amo…

Porque as palavras têm valor, muito valor…

domingo, 4 de janeiro de 2009