tvAAC

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Uma nova paixão =)

Foi naquele longo dia. Depois de tudo o que havia passado surgiu como que uma saudade de estar perto dela. Depois do Rock In Rio, depois do almoço de convívio em Anadia surgiu mais forte que nunca. Fui apanhado por uma saudade tremenda e uma vontade de proximidade que me surgiram como uma revelação. Era aquela paixão por ela que havia estado todo este tempo a meu lado. Uma paixão que nasceu adormecida e despertou agora. Vivi um bom período da minha vida junto dela e nunca tinha reparado na falta que ela me fazia. Mas era. É. É uma paixão, uma forte paixão. Uma nova paixão nascida do antigo.
É uma paixão diferente. Diferente de qualquer outra. Neste amor eu posso estar diariamente com ela. Posso deitar-me com ela. Posso sonhar com ela e agarrado a ela, naquele abraço profundo de quem se sente tão bem acolhido. Quando acordo sorrio sentindo o seu amparo, a sua ternura, a sua maciez. Sonho durante o dia, acordado, em a reencontrar, em sentir de novo a sua apática paixão, o seu amor passivo de quem se deixa amar sem limites.
É uma paixão diferente. Uma paixão de quem sabe falar e desabafar para quem sabe ouvir. Ela sabe como ninguém amparar as minhas lágrimas de tristeza e, mesmo sem dizer nada, sem dar resposta aos meus problemas, sabe dar-me o consolo silencioso que tão bem me faz viver.
Agora mais que nunca, agora que percebo quanto gosto dela, treme-se-me o coração. Vou para longe. E que será de mim? Como poderei eu aprender a viver longe dela e de tudo o que ela me dá? Espero por lá, naquele outro canto do mundo, poder encontrar amparo semelhante, que não me faça sentir distante, que faça de mim um homem de coração leve, diariamente com a mesma dedicação.
Vivo e anseio estar com ela minuto a minuto, agarrado a ela, abraçado a ela, a viver um sonho literal e a pensar, pensar, pensar…
Como amo a minha almofada… Eh eh! =p
Desculpa lá Marianinha mas era mesmo surpresa lol não te podia contar… E desculpa lá se ficaste desiludida por descobrir quem era, mas a curiosidade é assim… lol Beijinho*

Um longo dia

Estava empanturrado no sofá a digerir as telenovelas que a minha mãe vê quando recebi uma mensagem. Os meus afilhados tinham ido dar uma volta ali por aquelas bandas e queriam que eu lhes pagasse um copo. Já era tarde e as reclamações da minha mãe logo se fizeram sentir. Ignorando o chorrilho de críticas saí de casa porta fora em direcção ao bowling. Faz-me falta viver, deixem-me aproveitar antes de ficar um velho caquético que não pode sequer berrar com os árbitros sem se habilitar a ter uma crise de hipertensão. Prego a fundo e com a adrenalina a bombar, cheguei num instante. Lá estavam eles na paródia com os copos de imperial vazios à frente.
A noite foi calma mas porreira. Sempre a sumo mas animado, juntei-me a eles na claque do karaoke. Uns joguitos na máquina de discos, umas caralhadas e gargalhadas ocuparam-me ali umas horas. De regresso a casa, mais calmo e devagar, fui-me deitar.
Haviam passado pouco mais de três horas e o despertador do telemóvel já me arrancava do meu sono reparador. Saltei da cama a custo e tratei de me preparar. O carro apitou lá fora. Seguimos para a estação e felizmente a maldita da greve não atrasou o comboio mais que vinte minutos. Carregando o rapaz às costas por causa dos altos degraus lá entrei com a minha campanha no comboio. Well, se íamos um pouco a dormir esse sono não durou muito. Malta da Figueira já embarcada fazia a festa no comboio, uma festa animada bem regada com cerveja, Malibu, Vodka, um saboroso de 12 anos e Coca-Cola para as misturas. O revisor era já apelidado por “pica”. “Papa decotes alééé, papa decotes alééé…”, “e salta pica, e salta pica, olé, olé!”, “Ia o pica na rua a correr, com um caralho no cu a bater, quanto mais o pica corria, mais o caralho no cu lhe batia” esta sem ele ouvir, claro. Bem, digamos que nem mesmo o “pica” conseguiu aguentar o seu semblante sério por muito tempo e apesar do barulho o resto da tripulação parecia rendida à animação daqueles bobos regados a álcool.
Desembarcados já em Lisboa eram horas de almoço. Apanhámos o metro na direcção da Bela-Vista. Já se sentiam as formigas a caminhar na direcção do mel. Sempre por acessos reservados e entradas exclusivas à imprensa para facilitar a chegada do rapaz, lá entrámos nós ao mesmo tempo que os fanáticos doidos que ambicionavam ser os primeiros a inaugurar o recinto naquele dia e chegar aos lugares bem perto do palco.
O acesso condicionado para pessoas com dificuldades era uma bancada perfeita com vista mesmo exclusiva para o palco e para aquela multidão eufórica. O que se seguiu com o início dos concertos… bem, só visto e ouvido. Os arrepios com aquela visão trepidante e com o som envolvente eram uma constante. Por muito que gostasse nunca conseguiria transcrever aqueles sentimentos fantásticos que lá se viviam. O clímax veio mesmo com os Linkin Park. Aqueles malucos sabem mesmo como dar a volta à cabeça de uma multidão já eufórica.
Só mesmo quem lá esteve pode saber como foi. Fica a certeza da vontade de um regresso em 2010.
Ui… Quem é que encontrava um táxi livre… Ao fim de umas horas lá conseguimos apanhar um táxi até ao oriente. Um curto fechar de olhos até à hora do comboio de regresso a casa. Entrando sentiu-se o silêncio, os nossos amigos não estavam ali para continuar a animação lol uma curta sesta até casa.
Um banho rápido. Vestido e pronto lá fui com os meus pais até Anadia. Vinha de uma directa e bem cansado, até porque na noite anterior apenas havia dormido umas trê horas. Esta ocasião era diferente. Íamos a um almoço de convívio de ex-combatentes do ultramar em Moçambique, já realizado há alguns anos no primeiro sábado do mês de Junho.
A bandeira da companhia de artilharia avistou-se ao longe à beira da estrada. A recepção foi feita com sorrisos e palmadas nas costas, alegria por poder reencontrar colegas e amigos oriundos do extremo Norte ao extremo Sul de todo o país. Afinal muitos deles já ficaram pelo caminho e não presenciam este dia como os que cá estão. A conversa é animada, a esposas trocam impressões e as que se conhecem trocam novidades. Os maridos envoltos na necessária boa disposição trocam gargalhadas divertidas e animadas. Eu e o fotógrafo registamos o momento com a máquina de filmar, gravamos as conversas mas os sentimentos não cabem na fita.
-Pessoal, o almoço está à espera!
As gentes entram então no restaurante. É pequeno e não tem muitas condições, mas a proximidade humana nunca fez mal a ninguém. Observo então quem está. Poucos são os jovens como eu que gostam de acompanhar os pais a presenciar a nostalgia destes encontros, e vê-se de ano para ano a evolução da descendência ali presente.
O Ferreira, homem do Norte, ali sentado ao meu lado não dispensa a sua função de comediante e anima a mesa com piadas arrojadas. A mesa adere, ele sabe pôr as pessoas a rir com a sua boa disposição. Limpas as entradas chega o primeiro prato. Lá a meio do arroz de marisco confessa-me o Ferreira, meio a sério, meio a brincar:
-Come rapaz, come, come para compensar a fome que o teu pai passou lá no mato!
Eu, sorridente e bem disposto concordo com ele:
-Oh homem, fique descansado que se não como mais é porque não cabe…
-Então enfia para dentro de um saco e leva para casa! Come para compensar os meses que o teu pai passou a ração de combate!
Podia ser um conversa séria mas era apenas uma brincadeira de quem corajosamente sorri do Passado, do que já lá vai, do sofrimento e da angústia.
O leitão veio a seguir para honrar a fama daquela região ali à beira da Bairrada.
Após a sobremesa e partido o bolo já as conversas vão bem rodadas. Nalgumas vezes noutros anos um discurso irrompeu de um corajoso em recordar cenas daqueles tempos. Sendo apenas sincero e directo rapidamente os olhos de todos ficaram marejados de lágrimas. Aquele homem, de quem já não me recordo bem do nome nem sequer da sua cara, contava ali as cenas de horror que passou. Uma guerra é sempre uma guerra. Nunca é pacifica. A juntar-se à fome, aos enjoos da ração de combate, às doenças das águas inquinadas, à paranóia de só ver mato à frente, junta-se a angústia de ter que matar. De matar ou ser morto. Era guerra que se tinha vivido e ele ali contava. Soluçava nas palavras e os seus olhos brilhavam no cristal das suas lágrimas de profunda tristeza. Afinal não é todos os dias que se nos morre um camarada amigo nos nossos braços, com a nossa dura sensação de nada poder fazer a latejar no peito… Desatava aos tiros, tentava vingar a morte do amigo, procurava a calma no meio de tudo. Como lhe custou reviver esse momento para o partilhar. É duro. Foi duro. Abstenho-me às vezes de fazer perguntas ao meu pai nesta forte curiosidade de saber pelo que passou para não o magoar com as suas duras memórias daquela vida. Limito-me a vê-lo comentar as fotos que por lá tirou, os amigos que o destino separou dele e que ele confessa como gostaria de reencontrar.
Este ano foi calmo, não houve discursos. O grupo saiu para o abrigo da sombra de uma árvore ali perto e foi à foto de grupo. Brincando com o marchar, com o abrir fileiras, com as paródias que também houve naquele tempo, a animação faz-se sentir. Dois “click” e volta-se para o fresquinho da sombra do restaurante. É sempre um dia de fortes emoções, da mais forte alegria à mais dura tristeza. As conversas avançadas e já longas começam a rumar em direcção ao seu términos. Em jeito já de despedida brotam as últimas lágrimas, daquela esposa que lida com um problema crónico do filho diariamente, daquela esposa que conta a leucemia com que lida a sua filha, daquela esposa que conta como perdeu o seu filho num acidente de automóvel, daquela outra esposa, que em solidariedade, conta como um colega dos seus maridos perdeu a esposa assassinada num assalto à sua própria casa. Os maridos têm angústias do mesmo modo, são os pais daqueles filhos de que as esposas são mães. Partilham as suas doenças, os seus males, as suas tristezas, os problemas e os cancros da sociedade. Mas, vividos e corajosos como a vida os fez, já todos com mais de cinquenta, partilham também a boa disposição escondida lá no fundo, a esperança comum de dias melhores e de que para o próximo ano, noutro ponto do país, se possam encontrar vivos e não piores.
Restam poucos e muitos já rumam a caminho de casa. É a nossa vez, queremos chegar a casa a tempo do jogo de Portugal. O jogo valeu a pena. Jantado e cansado, com o meu pequeno coração atrofiado de emoções fortes, do dia e de há meses atrás, busco o meu leito. A cabeça pesa e não dá azo a muitos pensamentos. Em poucos minutos adormecia, estafado por um longo dia…

Amarrar-se ou soltar-se

“A Âncora nunca falhara. Esforçara-se por isso num sacrifício silencioso. E desprezava quem não fazia o mesmo.
-Sou a Âncora! Tudo pode falhar no barco, mas eu não falharei! Sem mim todos ficam em perigo. Sou a peça mais importante!
Amarrada na quilha da proa, a Âncora falava consigo mesma. Deslizava contente no barco, junto à costa, no mar do entardecer de Verão.

Saindo do nada, o Balão vermelho, rechonchudo, passa dançando. Os raios de Sol ao encontrá-lo, difundiram-se em clarão avermelhado como se fosse um novo astro. A Âncora ficou impressionada:
-É lindo! Mas de que lhe serve? Parece só ter o objectivo de se deixar levar – não interessa onde, nem se é essa a suja vontade. Tolo Balão! Que desperdício de existência! Levado à toa, pavoneando-se por nada, sem qualquer utilidade! Eu, sim, faço a diferença!
Cada vez mais contente consigo mesma, olha com desprezo o Balão dançante. Do alto, feliz com a vida nova, o Balão deixava-se embalar nesta aventura que não escolhera. Era apenas “um balão” quando o vento passou de rajada e o apanhou distraído. Então, sentiu-se levantar como se voasse. Estava encantado. Queria permanecer assim! Mas, foi breve. O vento arrastava-o para longe, muito longe.
Começou, então, a sentir frio. Pela primeira vez, sentiu-se perdido. Lá em baixo, uma paisagem azul, sempre igual. Ou não!? Qualquer coisa movia-se. Era um barco. Queria descer ao seu encontro. Mas, sentiu um calorzinho especial quando um raio de Sol o inundou. Virou-se, revirou-se, fazia piruetas… Sentia-se reluzir como se uma explosão se luz tivesse acontecido dentro de si. Era novamente um balão feliz!
-Não sei onde estou, mas alguém há-de cuidar de mim! Não tenho que me preocupar!
O Balão subia, deixava-se levar. Sem perceber porquê, sentiu uma pressão e um peso insuportável. Não tinha nada a se apegar. Não conseguia libertar-se, nem sequer pensar. Não sabia onde estava, para onde iria… afinal. Não sabia nada e deixou-se ir. Sentiu-se a desintegrar. Rebentou! Ficou em estilhaços. Cada bocadinho de balão foi caindo, perdido no espaço, até desaparecer no mar.
A Âncora presenciou tudo horrorizada. Pela experiência, sabia que o risco era grande: não se podia abandonar assim ao vento, sem controlo. Que irresponsabilidade! Para quê destruir-se? Sentia-se mais confortável, toda a vida acorrentada, a fazer os mesmos percursos, do que ser livre e arriscar a partir – liberdade que até já sonhara em segredo, mas que abandonara sem resistência. Olhando para o seu desgaste e ferrugem, reforçou a certeza de que o seu destino era o melhor que podia desejar.

No convés, o João tinha a primeira lição. O pai construíra com ele o Papagaio de papel leve e colorido, colado numa estrutura hexagonal quase perfeita. Era uma arte de família que o pai tinha todo o orgulho de lhe ensinar. A completar o trabalhar de ambos, escolheram o melhor local para apanhar o vento de feição. O pai subiu a escada e assobiou para o João:
-Podes preparar! Espera! Puxa agora!
Largado no ar, o Papagaio sente o vento a levantá-lo. Mas um solavanco do João a puxar o fio, fá-lo descer repentinamente e de imediato galgar o céu, cada vez mais alto. À medida que o Papagaio “pede” para subir, o João rejubila e faz deslizar o fio. João e pai, lado a lado, vão ajustando o impulso e o comprimento do fio à direcção do vento.
-Que lindo é tudo cá do alto! Que leve me sinto… Uau! – é a expressão máxima do Papagaio de cauda multicolor.
O Papagaio olha de relance para o João, assegurando-se de que o pai estava lá.
-O João é muito arrojado e isso dá-me espaço para voar, mas a sua inexperiência pode ser perigosa e deixar-me enroscar no mastro, ou cair nas ondas, ou… Bom, está bem acompanhado: conheço a perícia e prudência do pai. É perito a controlar quedas. Transforma-as em impulsos para novas alturas.

O Papagaio olhou para si e para o espaço, com olhos de quem está no alto, livre e leve. Viu a sua estrutura cuidadosamente montada, sentiu-se forte, resistente a rajadas potentes. Sentiu o valor de ser também feito deste fio que oferece protecção, impulso, reacerto, possibilidade de voar e de regressar. E olhando a proa do barco, viu a Âncora acorrentada, ainda robusta, amarelada pela ferrugem e desgastada pelo tempo e pelas tempestades. Estava orgulhosa, pronta a actuar. Ela olhava para ele, Papagaio, por momentos esquecida do seu peso que fazia parar o barco. E, do canto, a Âncora segredou-lhe:
-Prometes, Papagaio, nunca te desprender do fio que te liga ao real e aprender a sonhar, subir, voar, sem te deixares enferrujar ou destruir? Quando levantas voo, alimentas a magia dos sonhos de menino e semeias a esperança colorida de quem constrói papagaios!
Desde então, sempre que o Papagaio levanta voo, leva na bagagem os sonhos de menino e a liberdade de quem sabe colorir o céu, construindo papagaios.”

A história não é minha, mas dificilmente algo podia transcrever melhor o meu frequente dilema. Vivo muitas vezes com o espírito da Âncora, agarrado a tudo e com medo de me soltar. Nunca fui como o Balão que se deixa soltar sem estar preso por um fio, sem segurança, sem uma ligação mínima, mas felizmente estou a aprender a viver como o Papagaio, a soltar-me sem deixar de estar totalmente amarrado, com um fio de segurança a prender-me ao real. As quedas são reais, mas se as houver também servirão para mim como impulso a novas aventuras e consolidarão a minha experiência
Devemos dar um espaço a todos os nossos sonhos. Devemos saber subir bem alto e não ter medos ou preconceitos que nos impeçam de sonhar ou de levar os nossos sonhos avante. A preparar-me para escrever o livro, a caminho da Roménia, sou agora um Papagaio feliz preso lá no alto a observar quão bonitos são os sonhos de menino, de um menino agora grande por fora, um pouco pequeno ainda por dentro, próximo dos sonhos, próximo da felicidade.