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sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Quem é o sábio?


Naqueles dias dizia-me um estimado professor assim:
“-Quando uma pessoa lhe chamar burro ignore. Quando duas pessoas lhe chamarem burro comece a pensar nisso. Quando três pessoas lhe chamarem burro é melhor comprar umas orelhas.”
Disseram-me várias vezes, por lisonja e por ser aparentemente verdade, que tenho um dom. De há um tempo para cá tenho vivido obstinado a provar isso, tenho tentado convencer-me a mim próprio que é verdade, tenho acreditado nisso. Diz “O Segredo” que é bom acreditar, aliás, que a chave é acreditar. É um factor cientificamente óbvio que o acreditar e o esforço no sentido da concretização levam a um aumento da probabilidade de que o facto desejado realmente aconteça. Mas com um dom é diferente, um dom não acontece por simples força do desejo, um dom não vem por acréscimo com a vontade, um dom nasce e pode ser definido como característica natural intrínseca ao indivíduo. E ao olhar para o vizinho do lado, ao cuscar o trabalho de outrem, resigno-me à minha insignificância. Quis muito acreditar que tinha o dom, mas aquilo em que acredito é mísero ao pé da beleza de tão simples palavras, ali sim, mora o dom.
Uma vez que tomo consciência da realidade acanho-me e calo-me. Brinquei muito a tentar ser reconhecido por algo que não tinha e fiz figura de parvo com isso.
Já vi sábios, já conheci sábios mas poucos verdadeiros. Hoje, depois de muita brincadeira em redor da verdade, sou dono absoluto da verdade de que a suposta verdade é afinal mentira e o tal dom não existe, era apenas uma vontade.
Já fui apelidado, sarcasticamente, de “Dono da Verdade”, parece que quis ser mais do que aquilo que sabia. Dizem-me mais que muitas vezes que tenho a mania de que tenho sempre razão. É bem verdade. Muitas vezes tenho jeito para ombro amigo, ouço o que acontece e proclamo bonitas palavras. Tenho jeito com chavões e impressiono algumas pessoas com palavras caras e um pouco de imaginação, não com palavras verdadeiras. Dão-me razão as pessoas, não porque a tenha mas porque a convicção com que as digo levam-nas a parecer verdadeiras e banhadas de razão. Isto é uma característica intrínseca à minha pessoa mas não é de todo um dom.
Às vezes nasce um parvo. Fala como um papagaio, não pensa no que diz, mas pode no seu despropósito dizer palavras tão certas como a morte. Claro que quando não são bonitas, coordenadas nem complexas não são levadas em conta.

Por outro lado, a sabedoria de quem é sábio, de um qualquer escritor de verdade e reconhecido, é valiosa como uma ciência alquímica. E tal valor tem origem apenas nos flutuantes pensamentos a que o livre arbítrio da compreensão dos factos origina, não numa extraordinária inteligência ou numa árdua tentativa de formular complexas expressões de dúbios sentidos, de múltiplas possibilidades de compreensão que deixam o intelecto ocupado. Portanto não há ciência definida a que se possa chamar “Sabedoria” como sendo a origem de boas palavras de irrefutável razão, pelo que qualquer indivíduo com dois dedos de testa e sentidos apurados pode ser um sábio na compreensão da realidade e obtenção de respostas, quer seja o Romano, o Grande, o Guelas, o Zé ou o Mimosa.
A razão de haver poucos sábios está no facto de nem todo o comum mortal com estas comuns características se dar ao trabalho de dar um passo em frente e aventurar-se na jornada da procura de respostas, porque ela é longa e trabalhosa, e há muito quem prefira viver na ignorância. Enquanto se vê um grupo de comuns mortais na batalha por mais direitos, mais posse, mais dinheiro e propriedade, vê-se um homem solitário, à parte, absorto nos seus pensamentos, revolvendo a neve e perguntando-se porque é ela branca, porque é ela fria, porque é ela leve, procurando respostas para dar a quem vier a seguir. Esse homem distante no silêncio a quem chamam louco é um comum sábio por entre a comum gente comum.

Sábio que é sábio é aquele que sabe calar e não proclamar que é sábio, aquele que sabe viver na humildade de não ser mais do que aquilo que é (um peão no jogo), e saber ao mesmo tempo viver na condição de que o humano é um ser social e a palavra chave é “reciprocidade”.

1 comentário:

Vitor Alves disse...

Nunca levei a serio um termo destes, se bem que na verdade já o li tanta vez...a biblio segundo os jeovas, falam numa diferença entre sabio e iniquo, na ciencia, o sabio é considerado de tantas formas e maneiras como equitativo a um Einstein, e pra nos, cada um da a definiçao k ker...mas fico.me pela dos piões em jogo, que isso somos realmente, peoes que fazem apenas o que querem, são opções, e kt a mim tenho as minhas que não passam por lutar por tais respostas mas por viver a custa dakilo que sei que m da garantias...

Dizias, ombro amigo, n duvido, mas ha varias maneiras de lidar com isso....um ombro amigo de certo sabe escutar, mas por x n precisa de proferir qualquer palavra para que se torne nessa coisa....
Os conselhos dão-se quando são necessários e fala-se kd se tem de falar....mas se o silêncio for a melhor opção, entao k seja...

Lá está, a vida resume-se a opções..e dps....Consequências e no fim, como qualquer tolo sabe, temos a morte.

Abraço []